Livro faz uma viagem completa pela vida e obra de Zé Ramalho

A proposta de um fã de Zé Ramalho que reside em São Carlos, interior de São Paulo e o apoio de um editor independente de João Pessoa resultaram na biografia “Zé Ramalho: o Profeta do Terceiro Milênio”, que está sendo lançada agora pela Editora Marca de Fantasia, do jornalista e professor da UFPB Henrique Magalhães. O autor, Isaac Soares de Souza, emprega sua passionalidade para acrescentar luz e poesia à história de vida do paraibano de Brejo do Cruz que conquistou o Brasil com sua voz inconfundível.

Isaac vê Zé Ramalho como “um Cão Cérbero vigiando os portais do érebo (escuridão) em que se transformou a Música Popular Brasileira, o único à altura do gênio e filósofo Raul Seixas e de Bob Dylan”. Para o autor, sem nomes como o de Zé Ramalho, a música brasileira estaria a mercê do que ele chama de uma casta de sertanejos, pagodeiros e rappers que constituem “um acinte à inteligência humana”.

O escritor avalia a música de Zé Ramalho como genial e apocalíptica, uma verdadeira miscigenação de ritmos e brasilidade, evocando os espíritos dylianos, gonzagueanos e raulseixistas – em suas palavras.

Mais do que um levantamento puramente biográfico, Isaac permeia sua obra com opiniões pessoais, adjetivos e epítetos curiosos para seu ídolo como “Profeta do Terceiro Milênio” e “Apolo da Caatinga".

O livro aborda dramas pessoais do artista como ainda menino ter visto o pai morrer afogado num açude e como a figura dele foi substituída pelo avô, homenageado em “Avôhai”, um de seus primeiros sucessos. O autor também fala dos três casamentos de Zé e de seus seis filhos, de como a separação de Amelinha o desequilibrou e como só reencontrou o equilíbrio com a sua atual mulher, a engenheira cearense Roberta Fontenelle.
A mulher Roberta Fontenelle Garcia, atual mulher de Zé Ramalho, é prima legítima de Amelinha, de quem o compositor se separou na década de 80. A mãe de Roberta e Belchior são primos.
“Paêbirú”
“Paêbirú”, disco raro hoje em dia, é um clássico do pós-tropicalismo e trazia, em seus quatro lados, uma dedicação aos elementos água, terra, fogo e ar. Foi gravado no Recife.
Autor também dá destaque à incursão de Zé na literatura
Isaac Soares de Souza destaca também a incursão de Zé Ramalho na literatura. O músico é autor dos folhetos de cordel “Apocalipse agalopado” e “A peleja de Zé do Caixão com o cantor Zé Ramalho” e do livro “Carne de pescoço”. A biografia traz um relato pessoal do autor sobre a dificuldade que teve para adquirir um exemplar de “Carne de pescoço”. “Lembro que quando tomei conhecimento da edição do livro em 1982 entrei em desespero literário. Vasculhei dezenas de livrarias e escrevi inúmeras cartas endereçadas a Zé Ramalho na esperança de conseguir um exemplar deste livro. Todo meu esforço foi em vão”, escreveu.
A frustração seria superada 14 anos depois, quando José Williams de Barros, presidente do Fã Clube Zé Ramalho em Brasília, intermediou o contato de Isaac com seu ídolo. Quando Isaac falou de sua intenção de escrever um livro sobre Zé Ramalho, o paraibano não somente o autorizou como o presenteou com exemplares de suas três publicações, dezenas de fotos, alguns discos autografados, camisetas e uma infinidade de material impresso. Zé também orientou o presidente do fã clube a enviar mais fotos, releases e todas as informações necessárias para subsidiar a pesquisa.
Jorge Mautner
Chama a atenção o destaque que o autor de “Zé Ramalho – O Profeta do Terceiro Milênio” dá ao escritor e compositor Jorge Mautner, amigo de Zé e peça influente em sua carreira. Mautner declarou que compôs “Orquídea negra”, música-título de um dos discos de Zé Ramalho, pensando no paraibano e explicou: “essa música é uma saudação à bandeira da loucura e da pirataria. Loucura que a razão oficial negava. É a rebeldia, a imaginação da quarta dimensão, sempre presente no trabalho de Zé Ramalho. Ele é o anjo do impossível”.

O livro de Isaac quebra a linearidade temporal ao reconstituir a história de vida de Zé Ramalho. Ele explica na obra aos críticos que pretendem o apedrejar que a desordem foi arquitetada intencionalmente. Segundo o autor, um artista como Zé Ramalho não poderia ser corretamente biografado sob o jugo de uma ordem cronológica. No entanto, coube ao editor da Marca de Fantasia, Henrique Magalhães, colocar um pouco de ordem no texto bruto para que fosse transformado em livro. “A editora funciona muito dentro da minha dinâmica. Quando eu pego um texto interessante vou trabalhando nele até que fique pronto para ser lançado”, explicou Henrique.

Texto: Breno Barros

O livro pode ser adquirido atravez da editora Marca de Fantasia
(
www.marcadefantasia.com)

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