Por Onaldo Queiroga
Zé Ramalho é um filho do Baião, é um gonzagueano. Desde seus tenros anos passou a ouvir o som singular da sanfona do Exu, que associada a voz forte do filho de Januário, mostrava-lhe as injustiças sofridas por um povo, mas ao mesmo tempo, a fortaleza desse mesmo povo, em enfrentar secas, corruções, veredas retirantes, estradas de morte e de vidas.
O protesto foi um dos pontos marcantes da obra do Rei do Baião. A própria música Asa Branca, segundo o Humberto Teixeira não deixa de ser uma canção de protesto, claro de cunho telúrico, mas que desenha em sua letra e melodia uma mensagem de sofrimento do sertanejo nordestino, ante a ausência de ações efetivas de combate a estiagem e seus males.
Lá no Brejo do Cruz, depois Campina Grande e nos Jardins das Acácias, Zé ouviu muitas vezes as queixas e reivindicações expressadas nas músicas do Gonzaga. Ora elas lhes chegavam pelas ondas do rádio, ora nas vozes de velhos sanfoneiros ou rabequeiros, que no meio de uma feira de rua aboiavam dolentes canções trazidas pelos ventos soprados pelos céus da Chapada do Araripe. O cenário nostálgico e até mesmo apocalíptico desenhado nas canções gonzagueanas, como por exemplo, em Nordeste Sangrento, Assum Preto, Vozes da Seca e da inesquecível Triste Partida, influenciaram fortemente o menino da pedra ondulada, tanto é que Zé Ramalho dedica um CD só com canções do Rei do Baião.
Com a sua viola de doze cordas no peito, Zé compõe a dura realidade de um povo chamado Brasil, de tão dura, sofrida e cruel, suas letras enxergam um traço apocalíptico em toda essa saga miserável representada por um admirável gado novo.
Como Luiz Gonzaga, Zé deixou sua terra natal, ganhou a estrada, mas não perdeu suas origens de vista. Em seu coração a força do seu povo o fez cada vez mais nordestino. Sua voz é tão forte que nos faz pensar ser um trovão que estava adormecido no âmago da Pedra Ondulada, aquela pedra lá do seu velho e querido Brejo do Cruz. Esse trovão adormecido a milhares de anos, acordou, é realmente a sua voz Zé Ramalho, ela veio para sacudir o mundo, mostrar ao homem que essa trilha de aniquilamento da natureza e do extermínio dos nossos irmãos só nos leva para um portal apocalíptico.
Mas nesse trovão também encontramos mensagens de esperança, por isso, continue Zé, sonhando e ensinnando a humanidade a escrever num imenso muro a palavra liberdade.
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