Aproveitando o ensejo. A psicodelia nordestina na voz única e exclusiva
de Lula Côrtes não foi suficiente para suprir o desejo das cordas,
guitarras, flautas etc da música nordestina.
Esses músicos nordestinos vieram pós-tropicalia. Chegaram a fazer a ponte com o movimento tropicalista, quando Alceu Valença e Geraldo Azevedo convidaram Rogério Duprat pra orquestrar algumas faixas do disco intitulado ‘Quadrofônico’, de 1972. No ano seguinte vinha o Lula Côrtes e junto com Lailson gravando o ‘Satwa’, para depois produzirem o disco de Marconi Notaro, ‘No Sub-Reino dos Metazoários’, que tinha até o Zé Ramalho tocando guitarra em ‘Made in PB’.
Os caras vinham produzindo um monte de discos, dentro da extinta gravadora Rozenblit, em Recife. Produziram também o disco de estréia da banda ‘Flaviola e o Bando do Sol’, que tinha a versão original de ‘Romance de lua’ (depois regravada por Amelinha). Enquanto isso, em outro estúdio, a banda Ave Sangria lançava seu primeiro LP, auto-intitulado, que tinha um desenho do próprio Lailson na capa. O famoso show que a banda fez no Teatro Santa Izabel foi gravado e disponibilizado aqui na internet. Pois essa banda tinha nada mesmo que Paulo Rafael e Ivinho nas guitarras. Foda, hein!
Mas está enganado se pensas que foram apenas esses expoentes na psicodelia nordestina. Robertinho do Recife também lançou o primeiro disco nessa época, ‘Jardim da Infância’. Ivinho, famoso guitarrista, violonista e violeiro lançou disco ao vivo no festival de jazz em Montreux. Zé da Flauta e Paulo Rafael também lançaram seu exemplar, ‘Caruá’. Zé é flautista e exímio tocador de pífano, enquanto Rafael é guitarrista e tocou por muitos anos na banda de Alceu Valença. Nesse disco tem a primeira gravação do então novato Lenine, na faixa 'Zé Piaba'.
Mas a cereja do bolo vem agora. Zé Ramalho lançou em 2007 um disco de gravações antigas entre os anos de 73 e 76, já que o primeiro disco desse cantador foi lançado em 77 – aquele que tinha ‘Avohái’, ‘Dança das borboletas’, ‘Meninas da Albarã’ e ‘Adeus segunda-feira cinzenta’. Pois você pode curtir versões demo de todas essas músicas já citadas (acima), como de ‘Jardim das Acácias’ e ‘Admirável vida de gado’ (gravadas apenas em 79 no segundo disco de Ramalho – aquele com o Zé do Caixão na capa) e também de ‘Táxi lunar’ e ‘Jacarepaguá blues’ (originalmente gravadas por Geraldo Azevedo e Alceu Valença, respectivamente), que na voz do Zé da Paraíba, levavam forte influência do 'The Cream' e dos blues rasgados do 'Led Zeppelin'. Esse disco é uma pérola porque tem apresentações antológicas do Zé Ramalho, que remetiam a um Ziggy Stardust do sertão, ouçam ‘O astronauta’ (e vejam se não lembra ‘Space Oddity’ do David Bowie).
Além de ter tocado no disco de Marconi Notaro, Ramalho também gravou o compacto ‘Réquiem para o Circo/ Made in PB’, junto com o Grupo Ave Viola. Então seguem mais alguns clássicos da psicodelia nordestina.
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