Depois de produzir três discos em menos de doze meses, Zé Ramalho lançou o álbum Orquídea Negra, ao
mesmo tempo em que prepara três livros para serem editados ainda este
ano. Neste trabalho, fruto de uma extensa pesquisa, ele procura
encontrar uma linguagem nordestina voltada para imagens representativas
de cultura do povo, com a preocupação de não cair em simbolismos
estereotipados. "A arte é uma grande aventura para o ser humano". diz
ele e talvez seja por isso que se aventure tanto, mesmo quando faz
literatura de cordel. "Não tenho nenhum interesse comercial nos meus
livros, e qualquer pessoa que quiser recebê-los, a exemplo de Carne de Pescoço, só é preciso escrever para a CBS pedindo o material."
No último trabalho, Orquídea Negra. Zé
Ramalho se voltou para parcerias. Isso, segundo ele, se deve ao fato de
"depois de ter atravessado um mar de silêncio recebi uma couraça de
Jorge Mautner e resolvi dividir meus momentos de criação com outros
parceiros. Orquídea Negra é uma imagem do que Mautner pensa de
mim, transcrita com firmeza para uma música". O místico, traço marcante
em seu trabalho, teve origem na terra onde nasceu (a Paraíba) e em
imagens de sonhos. "Meu trabalho às vezes é meio confuso, mas isso
obriga as pessoas a ouvirem mais para querer entender. Faz parte da
loucura da arte as contradições que vão sendo reveladas a cada passo - essencial
para que as pessoas sejam levadas a pensar." O fato de não pisar num
palco este ano traduz uma necessidade de vida e produção. Afinal.
como ele' diz, "tudo o que o artista pratica fora do palco soma para a concepção total do seu trabalho".
Revista Fatos e Fotos em 05/09/1983
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