A Prefeitura, a campanha eleitoral e Zé Ramalho



Por Walter Santos 

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Ninguém pode negar a esperteza e a habilidade com que setores midiáticos da Prefeitura de João Pessoa utilizam de forma sub-liminar seus feitos para se fazer presente anunciando de forma legal suas ações como reforço à imagem da atual gestão que tem origem no candidato ao Governo, Ricardo Coutinho.
Diga-se de passagem que tudo tem merecido aval do Tribunal Regional Eleitoral.
Agora mesmo, neste domingo de ‘ressaca cívica’ para quem vive envolvido com o acompanhamento das lides políticas, o universo telespectador se viu diante de uma bela propaganda da PMJP estrelada pelo decente professor realçando o ano cultural Zé Ramalho, antes já evidenciado nas figuras extraordinárias de Sérgio de Castro Pinto, José Lins do Rego e Ariano Suassuana.

Em tempo de aquecimento político eis que a Prefeitura anuncia para o próximo dia 24 de setembro, nas areias prateadas de Tambaú um grande show de encerramento do Ano Cultural Zé Ramalho.
Três perguntas, entretanto, transformam a justa e maravilhosa menção feita a Zé, certamente uma das maiores legendas de todos os tempos da Paraíba, em tentativa de manobra inteligente e espetacular:
1) Por que a homenagem exatamente às vésperas do final da campanha eleitoral, se o ano termina mais na frente?
2) Como a Prefeitura poderá inibir ou proibir que fãs / eleitores do artista transformem o show em ato político?
3) Qual o argumento para envolver o artista numa época de campanha, se a regra eleitoral impede ações com qualquer vinculo ‘mesmo involuntário’ dessa natureza?
Neste ou em qualquer outro momento, não há nenhuma censura à essência do projeto em si, certamente a merecer aplausos, mas numa época de valores políticos aguçados em plena campanha eleitoral, se faz imprescindível zelar pelo respeito às regras e ao artista em si, que certamente não foi comunicado que sua apresentação pode se transformar sutilmente em “ato político de campanha”, mesmo sem sê-lo contratado para tal, porque o argumento é de outra natureza.
Ora, o ano letivo na Prefeitura termina mais na frente, portanto, não se esgota no dia 24 de setembro, além do mais Zé Ramalho tem méritos para o grande show em sua homenagem, mas não é justo usar de sua fama e de sua história para confundir fãs e eleitores num mesmo saco, por isso a data - simplesmente ela - é imprópria.
Certamente que a Prefeitura vai repelir os questionamentos, mas mantendo essa iniciativa, que um dia precisa fazê - lo em alto estilo, longe do clima eleitoral com comparecimento geral de todos, ela gera um clima a permitir a possibilidade de “uso” indevido da imagem do grande poeta numa hora imprópria, repito.
Vamos todos reverenciar, fazer calos de palmas ao Menestrel de “Avohai”, mas Zé precisa ser preservado e respeitado intensamente, além do mais a Prefeitura admitir que há inteligência latente na Paraíba, além dos círculos oficiais.
Está tudo claro, muito claro.

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"Tô vendo tudo/ tô vendo tudo/
mas bico calado faz de conta que sou mudo..."

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