09 de Julho de 2012
Humberto Vital
Mais de 30 anos de carreira, 25 discos solo, shows o ano inteiro e um
lugar de destaque na Música Popular Brasileira acabam por desaguar no
novo CD de Zé Ramalho, Sinais dos Tempos (Avôhai Music, R$ 27,00, em
média), um álbum de 12 canções, todas compostas por Zé, que ele define
como o disco da sua maturidade.
Primeiro álbum de inéditas de Zé Ramalho em sete anos, Sinais dos
Tempos sucede a série de tributos que o músico fez para Bob Dylan, Luiz
Gonzaga, Jackson do Pandeiro e os Beatles entre 2008 e 2011 e é um
reencontro do paraibano com seu rock psicodélico, sua temática mística e
suas raízes nordestinas, embora o artista não goste de chamar de
reencontro.
“Não é um reencontro”, rebate Zé Ramalho, em entrevista ao JORNAL DA
PARAÍBA, por e-mail. “É uma continuidade das minhas lembranças e
memórias, que estão sempre comigo. Não esqueci de nada, como diz na
música (‘Indo com o tempo’, que abre o CD): ‘Me lembro claramente / De
tudo que eu vivi”.
Esse tom autobiográfico resvala, sobretudo, nos últimos cinco anos da
vida do cantor, entre a carreira consolidada, os netos e até uma
disputa judicial com sua antiga gravadora e a editora de suas músicas
sobre sua própria obra. A citada ‘Indo com o tempo’ – com versos como “E
não perdoarei / A quem me trouxe dor” – e ‘Justiça Cega’ são temas que
versam sobre essa disputa.
“É um dos motivos”, confirma Zé. “Além de outras injustiças que
aconteceram na minha vida e que fornecem motivos suficientes para
descarregar todo sentimento de revolta e indignação, através de uma
canção. O disco inteiro é um retrato da minha fase que estou vivendo”.
Além do desabafo, os temas de Sinais dos Tempos são pontuados por
alienígenas, misticismo e divagações acerca do tempo, tema trabalhado na
arte da capa, no encarte e no material promocional do disco. Abordagens
mais próximas do autor de Opus Visionário e A Terceira Lâmina, do que
de Parceiros Viajantes.
Os temas, confidencia o músico paraibano, são inerentes a ele. “A
configuração das ideias inspiradoras desse trabalho surgiu naturalmente.
Não houve uma intenção específica de misticismo ou psicodelismo, porque
eles surgiram naturalmente, como tudo que aconteceu na minha
discografia”, comenta Zé Ramalho.
Em quase todas as músicas, diz ele, é possível encontrar as lições
que o tempo trouxe para sua vida. “Ele (o disco) confere maturidade,
experiência, segurança e autoridade para falar de tantos acontecimentos
em 35 anos de carreira. São 25 discos lançados, cinco DVDs gravados e
centenas de participações em discos de outros artistas e eventos. Essas
experiências me dão autoridade conferida pelo velho e bom tempo”.
Apesar das divagações sobre o passar do tempo (“Sinais de que os
tempos passaram / Passaram e mudaram demais”, diz a letra de ‘Sinais’),
Zé diz que não é um sujeito nostálgico, ou que vive do passado. “Apenas
a mídia e as pessoas da minha época se prenderam aos meus primeiros
discos e não os tiraram mais da cabeça”, responde. “O que está exposto é
a maturidade de um compositor que lida com temas que nenhum outro ousou
mexer.
Letras excêntricas, ideias viajantes e a nostalgia são apenas um sentimento particular meu, não estão expostas no disco”.
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