Manoel Monteiro
Talvez seja a impiedade do
sol causticante que penetrando as vistas, sem pedir licença, ofusque a alma à
ponto de deixá-la tonta e desvairada, ou quem sabe, seja o contraste do cacto
que floresce, delicado, por entre a agressividade dos espinhos, ou ainda, o
paradoxo do sapinho "hibernando" sob a derme da terra esturricada
pelos verões intermináveis, ou tudo isso junto resulte na alquimia que forja
homens estranhos e envolventes. A bigorna que moldou Antonio Conselheiro
continua produzindo "peças" disformes e curiosas.
Agora mesmo um espécime
desses habita as Terras de Avôhai e atende pelo nome de Severino Noé, É poeta,
é profeta. É asceta. Na sua vida que não tem data de começo nem previsão de fim
tem sido andarilho contumaz, filósofo loquaz, observador voraz. Faz amigos por
onde passa estes, dão-lhe água, alimento e teto só para terem o prazer de
ouvi-lo e a oportunidade de participarem de suas fantasias. Afinal, o que é
fantasia e o que é realidade, qual é o formato da cerca que separa o concreto
do abstrato? Severino Noé sabe. Sabe e diz.
Diz que veio ao mundo numa
barra de sabão. É possível alguém vir ao mundo por esse meio? Certamente. Se o
grande poeta e intelectual Augusto dos Anjos afirmou de pés juntos "ser
uma sombra e ter vindo de outras eras" porque outro poeta não pode ter
vindo camuflado numa barra de sabão. Pois bem, um dia desses o filósofo e poeta
Severino Noé encontrou numa encruzilhada da vida o também filósofo e poeta Zé
Ramalho e os dois, como era de se esperar, travaram farpas em versos e desse
extraordinário embate resultou o presente cordel. Para testemunhar o entrevero
poético lá estava de Câmara a postos, o hipersensível fotógrafo Aurílio Santos
para que não venham dizer que não foi assim. E olha que Aurílio é a maior
autoridade em Severino Noé, pois tem filmado e gravado "in loco"
andanças e falares desse filósofo sertanejo.
A surreal peleja de Noé
com Zé foi filmada e gravada por Aurílio, anotada e testemunhada pelo advogado
e professor universitário Orione Dantas, transcrita pelo poeta Afonso Costa
sendo que tudo foi oficialmente registrado por mim na presente nota
Texto apresentação do
Cordel A Peleja de Severino Noé com Zé Ramalho na Terra de Avôhai.
Campina Grande-PB,
Fevereiro de 2005
Apois bem e apois diga!!! Vi nos traços do poeta a presença dos filósofos NOÉ e ZÉ... E nas imagens do profeta Aurílio o brilho dos passos de Severino e as luzes do espaço Ramalhiano... E assim fiquei 'zarôi' que nem é milho novo... Avohai!!!
ResponderExcluirKydelmir Dantas - Nova Floresta - PB (02-01-2017)