Cantor fez uma grande apresentação em Curitiba e demostrou
estar totalmente recuperado do problema cardíaco enfrentado no começo do ano
Zé Ramalho, um artista de verdade (Foto – Marcos Anubis/Cwb
Live)
O cantor e compositor Zé Ramalho se apresentou ontem (31) no
Curitiba Master Hall. O show foi recheado de grandes clássicos, como “Avôhai” e
“Chão de giz”, e homenagens a outros artistas, como Raul Seixas e Luiz Gonzaga.
A julgar pela vitalidade e a simpatia demonstrada durante
toda a apresentação, o cantor, que passou por uma cirurgia cardíaca no último
mês de março, está totalmente recuperado.
Zé pisou no palco ao som de “O vento vai responder”, uma
versão do clássico “Blowin’ in the Wind”, de Bob Dylan. Logo nos primeiros
acordes foi possível perceber o poder impressionante que o cantor exerce sobre
as canções que interpreta. Sua voz grave e empostada e a forma como ele se
entrega no palco, essa uma característica dos grandes artistas, chamam muito a
atenção.
Um dos mais emocionantes momentos do show foi a canção
“Mulher nova, bonita e carinhosa”, com sua melodia misturando a cultura moura e
os ritmos nordestinos. A música foi um grande sucesso na voz da cantora
Amelinha, no início dos anos 1980. “A mulher tem na face, dois brilhantes,
condutores fiéis do seu destino. Quem não ama um sorriso feminino desconhece a
poesia de Cervantes”, diz a letra.
O cantor se comunicou pouco com o público, mas sempre de
forma carinhosa, como ao anunciar a música “Táxi lunar”, do disco “Orquídea
negra”, lançado em 1983. “Seguindo com a nossa viagem musical, vamos tomar um
taxi para a estação lunar”, disse. Zé não se esforça para impor emoção e
dramaticidade às suas canções. Isso acontece de uma forma muito natural.
Outro destaque foi “A terceira lâmina”, uma das pérolas do
repertório de Zé Ramalho. “O ritmo do nordeste é a filosofia do baião e a
pegada do forró”, disse ao anunciar a música. A letra da canção demonstra bem o
seu estilo de compor, com imagens visionárias e proféticas. “E virá como guerra
a terceira mensagem. Na cabeça do homem, aflição e coragem. Afastado da terra,
ele pensa na fera que o começa a devorar”, diz a letra.
“Admirável gado novo”, talvez o maior sucesso da carreira do
cantor, foi cantada pela plateia como se fosse um hino. “O povo foge da
ignorância, apesar de viver bem perto dela. E sonham com melhores tempos idos,
contemplam essa vida de uma cela”, declama o cantor. Apesar de ter sido gravada
no disco “Zé Ramalho 2”, de 1980, qualquer semelhança com a situação atual do
Brasil não é mera coincidência.
Além da versão de “Blowin’ in the Wind”, de Bob Dylan, Zé
fez referência a outro grande artista. “Esse é um momento especial em que eu
faço uma homenagem a um companheiro de profecias”, disse antes de tocar “Gita”
e “Medo da chuva”, de Raul Seixas.
Outro momento marcante foi “Eternas ondas”. O público ouvia
como se estivesse em outro plano, contemplando as imagens criadas pela mensagem
da canção. Zé compôs a música, em 1980, especialmente para Roberto Carlos. O
Rei gostou, mas optou por não gravá-la, achando a letra muito “carregada de
imagens apocalípticas”. Um ano depois, o cantor Fagner acabou gravando a música
e ela se tornou um dos grandes sucessos de sua carreira.
Do baião ao blues, de Jackson do Pandeiro a Dylan
Zé Ramalho é, talvez, o artista brasileiro que melhor mescla
os ritmos nordestinos. Um exemplo disso é “Frevo mulher”. No show, ela foi
tocada em uma versão ainda mais rápida que a original, com uma introdução feita
só pela parte percussiva do grupo, bateria e zabumba. Antes do término da
música, o cantor apresentou os músicos e se despediu. “Zé Ramalho e a ‘Banda Z’
se despedem de vocês. A todos vocês que fazem parte desta massa, o meu muito
obrigado e fiquem com Deus”, disse.
Na volta para o bis, o cantor se dirigiu novamente ao público,
agradecendo e se mostrando realmente feliz por estar de volta aos palcos depois
do problema de saúde que enfrentou no começou do ano. “Foi um grande prazer
passar esses momentos com vocês nesse show que é uma celebração da vida”,
afirmou. Em seguida, uma das músicas mais aplaudidas pelo público presente no
Master Hall, “Sinônimos”, gravada também pela dupla sertaneja Chitãozinho &
Xororó. Para encerrar a noite, “Vida de viajante”, homenagem a um dos grandes
representantes da música nordestina e brasileira, Luiz Gonzaga.
Zé foi acompanhado pela “Banda Z”, Chico Guedes no baixo,
Edu Constant na bateria, Dodô de Moraes nos teclados, Toti Cavalcanti nos
instrumentos de sopro e Zé Gomes na percussão.
Na saída do show era possível perceber a satisfação do público
em ter visto um dos grandes nomes da MPB, novamente, em plena forma. A música
brasileira necessita de talentos como Zé Ramalho, sempre.
Confira a entrada de Zé Ramalho no palco e a música “O vento
vai responder”, versão de “Blowin’ in the Wind” de Bob Dylan.
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