Zé Ramalho: o profeta do Terceiro Milênio



“José Ramalho Neto, ou simplesmente Zé Ramalho, nome pelo qual o menino nascido na mística cidadezinha de Brejo do Cruz, na Paraíba, é mais conhecido nacionalmente, onde passou a infância criado pelo avô (Avôhai), até os 12 anos de idade, tem muito a ver com sua música apocalíptica e genial, uma verdadeira miscigenação de ritmos e brasilidade, evocando os espíritos dylanianos, gonzagueanos e raulseixistas, além de uma forte mistura da Literatura de Cordel, dos violeiros nordestinos, do blues e do rock.”

Essa primeira impressão que nos fornece Isaac Soares de Souza passa bem o clima afetuoso que impregna seu livro, obra de fã incondicional que percorre a vida e a trajetória musical de Zé Ramalho, um dos mais celebrados e autênticos compositores da MPB há décadas. Desde sua formação musical, ainda menino, muita pedra rolou da ribanceira antes de chegar à gravação do primeiro disco. Como afirma Isaac, Zé participaria de três grupos de baile, tocando música dançante, sucessos nacionais e internacionais, início quase oficial de grande parte dos que escolhem a música como profissão de fé.
Apesar de ter iniciado o curso de Medicina, a meta de Zé Ramalho era mesmo a música. Logo ele passou a compor, influenciado pela tradição dos cantadores e pela Literatura de Cordel, inspirado nas tradições seculares do Sertão nordestino. Para Isaac, ele tinha tudo para ser um nordestino feliz e viver bem, mesmo que tivesse feito a escolha de viver no Nordeste: clima da Serra da Borborema, ar diáfano e beira do mar. “Mas ele tinha um desejo de mouro a pulsar em seu coração, na voz de trovão em noite de tempestade. Tal e qual uma fênix renascida das cinzas, precisava voar. O céu nordestino era pequeno demais para ele se manter estagnado; pássaro canoro nunca se priva do vôo rasante da Harpia, mesmo que tentem cortar suas asas.”
É o desenvolvimento da carreira artística de Zé Ramalho em São Paulo e no Rio de Janeiro que Isaac retrata em seu livro, que não resume apenas a obra do compositor paraibano, mas mostra num amplo painel todas as influências que ele absorvera de cantores como Alceu Valença, Amelinha, Raul Seixas, Lula Cortes, Jorge Mautner, Bob Dylan entre outros ícones da geração rebelde dos anos 1970. A passionalidade da escrita de Isaac, ao invés de comprometer o retrato do biografado, dá-lhe luz e poesia, numa espécie de depoimento envolvente de quem se deixa penetrar com gosto pela obra do, por ele denominado, Apolo do Sertão.
H. Magalhães

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