Companheiros de geração oriundos de uma mesma região, Moraes
Moreira e Zé Ramalho estão de volta ao disco em situações literalmente opostas.
Enquanto o baiano retoma a carreira com o instigante A revolta dos ritmos,
inspirado, segundo diz, nos áureos tempos de carreira, o paraibano poderá
frustrar os fãs com o insosso Sinais dos tempos, sete anos depois do último
álbum de inéditas.
Se por um lado Moraes anuncia para 6 de agosto o início da
turnê de lançamento do disco, começando pelo Rio de Janeiro, Zé Ramalho avisa
que não haverá show do novo trabalho, apesar de ele continuar excursionando com
sua banda. Em momentos distintos em suas carreiras, Moraes dá entrevistas por telefone,
enquanto Zé Ramalho opta pelo e-mail. Resta aos fãs conferir os repertórios de
A revolta dos ritmos e Sinais dos tempos para tirar as próprias conclusões.
Fazendo poesia Feliz e falante, Moraes Moreira revela que
seu plano era fazer um disco de samba. “O projeto foi nascendo aos poucos.
Tinha muitas músicas, sambas, principalmente. Daí a ideia de um disco do
gênero.” Aos poucos, no entanto, o baião, o xote e o bolero foram chegando e
ele teve de abrir para outros ritmos, incluindo composições mais recentes, como
A dor e o poeta.
Dedicando-se especialmente à poesia nos últimos tempos, o
cantor, compositor e instrumentista baiano revela que tem escrito muito cordel,
além de poesia em geral. “Foi por onde caminhei melhor”, confessa, atribuindo a
fase à própria maturidade. “Para não dizer velhice”, diz. “Com o tempo
passando, a gente pode poetar.” Essa arte da poesia, afirma, aprendeu com os
companheiros dos Novos Baianos, aos quais, aliás, atribui a inspiração do novo
disco.
Moraes conta que está reunindo poemas para a publicação de
um livro, paralelamente à realização de um projeto com direito a declamação
pública e exibição deles em um varal. “Eu quis fazer um disco só de samba/ mas
o baião ficou tão enciumado/ e foi aí que eu disse sim, caramba/ como é que eu
resolvo esse babado”, canta Moraes Moreira, sem deixar de lado ritmos
importantes em sua formação, como o rock, o afoxé, o maracatu, a ciranda e o
frevo, todos devidamente citados em A revolta dos ritmos.
Já na abertura, o próprio compositor usa o samba de breque
para fazer um alerta a si mesmo, citando, entre outros, João da Baiana,
Pixinguinha e Donga, além, claro do xará Moreira da Silva: “Cuidado Moreira/
quando pisares no mundo do samba/ vê se segura sua onda”. O novo disco, admite,
é uma homenagem ao clássico Acabou chorare, dos Novos Baianos, que está
completando 40 anos. O filho Davi Moraes, com quem resgatou o repertório em
show comemorativo à data, não por acaso também está em destaque no trabalho.
“Acabou chorare é um oráculo ao qual eu sempre consulto. No novo disco, há
momentos em que cavaquinho e pandeiro foram inspirados lá. A revolta dos ritmos
tem muito da pegada dos Novos Baianos”, conclui Moraes Moreira.
Psicodelia latente
Mesmo fazendo do tempo a temática central do novo disco, Zé
Ramalho garante que não se sente incomodado com ele. “Estou sentindo o tempo
passando e indo com ele”, garante o artista paraibano. A demora em lançar um
disco de inéditas é atribuída por ele a projetos temáticos como Zé Ramalho
canta ..., em que revisitou as obras de Bob Dylan, Raul Seixas, Luiz Gonzaga,
Jackson do Pandeiro e Beatles. “Isso tomou boa parte desses anos e me deixou em
condições de realizar esse projeto somente agora”, explica.
A lembrança do antológico Avôhai, de 1978, é inevitável.
Afinal, o próprio Zé Ramalho confessa que fez agora A noite branca em um
contraponto à canção A noite preta, do repertório daquele disco. Provocado a
lembrar o sucesso de Avôhai, o cantor, compositor e instrumentista garante já
ter falado o suficiente, preferindo concentrar-se no atual. “O encantamento do
primeiro disco está nele. Estou divulgando o meu novo trabalho: o atual,
inédito, está sendo a minha prioridade. A psicodelia está em quase todas as
músicas e é proveniente dos anos 1960-70. Foi quando pude beber intensamente de
várias fontes, que banham as canções atuais, para o deleite dos fãs.”
Na sequência, o próprio Zé diz que a fonte de inspiração vem
dos cantadores, dos repentistas, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinês,
Jovem Guarda, Raul Seixas, Pink Floyd, Bob Dylan, Beatles e Rolling Stones. A
criação de selo próprio deixa o cantor liberado dos executivos de gravadoras.
“Sigo agora patrão de mim mesmo. Sem ouvir ordens de ninguém, nem fazer nada
que não quero. E a Avôhai Music servindo apenas para meus propósitos, não
haverá outros artistas nesse selo”, anuncia “Estão no álbum lembranças e
vivências, algumas de forma mais aberta e outras mais enigmáticas”, conclui.
Fonte: www.divirta-se.uai.com.br
SEANSACIONAL, ZÉ RAMALHO!
ResponderExcluirMAIS UMA VEZ, VC COM O SEU DIFERENCIAL ARTÍSTICO.
PARABÉNS!
Mauro george