Depois de prestar tributos a ídolos como Bob Dylan e Luiz
Gonzaga, Zé Ramalho lança um novo disco de inéditas, Sinais dos Tempos, um
testemunho musical feito de "lembranças", "vivências" e
"enigmas"
Depois de cinco anos dedicados a tributos a outros artistas,
Zé Ramalho volta a lançar um disco de inéditas. Em Sinais dos Tempos, o cantor
e compositor paraibano retoma sua produção autoral e também as sonoridades
lisérgicas e a poética surrealista que impregnaram suas melhores composições e
seus melhores trabalhos. O novo CD, o vigésimo sexto disco de carreira, chega
ao mercado pelo selo Avôhai Music, criado por Zé em parceria com a esposa,
Roberta Ramalho.
“Depois que passei dos 60, parece que os anos estão
correndo. Me vejo num mundo louco, rápido e cruel e tendo de me inspirar nele
para fazer minha obra de arte”, ele explica no material de divulgação do CD.
“Os fãs vinham cobrando um disco autoral, mas passei os últimos cinco anos
refletindo sobre mudanças que ocorreram e fazendo músicas aos poucos”.
Ao longo desse período, Zé travou um longa batalha na
justiça para poder gravar seus próprios sucessos. Ao lado de artistas como
Roberto e Erasmo Carlos, brigou contra um grupo de editoras musicais que tentou
aumentar as taxas cobradas das gravadoras para a utilização das músicas em CDs
e DVDs. Moveu uma ação contra a editora EMI Songs – que fazia parte do grupo
denominado Associação Brasileira dos Editores de Música (Abem) – e tentou
rescindir os contratos através dos quais cedeu os direitos patrimoniais de suas
canções.
Em 2005, ao lançar o CD e o DVD Ao Vivo, com que comemorava
seus 30 anos de carreira, Zé teve os produtos tirados de circulação – apenas a
primeira tiragem foi vendida. O cantor partiu, então, para uma série de
homenagens a outros artistas, como Bob Dylan, Beatles, Jackson do Pandeiro e
Luiz Gonzaga, até conseguir a vitória nos tribunais.
No novo CD, o desgaste do período de litígio é lembrado na
faixa “Indo com o tempo”, em que ele canta: “Não perdoarei a quem me trouxe
dor”. Mas as incursões pela obra de seus ídolos e alguns episódios de sua vida
pessoal - como o nascimento dos netos e a parceria profissional com a esposa -
fizeram o artista sublimar a mágoa das editoras e se inspirar para os novos
vôos registrados no disco. “Estão no álbum lembranças e vivências, algumas de
forma mais aberta e outras mais enigmáticas”, explica.
Robertinho do Recife
O álbum é dirigido e produzido por Robertinho do Recife e
pelo próprio Zé Ramalho. A Banda Z escolta o paraibano em todas as gravações:
Chico Guedes (contrabaixo), Edu Constant (bateria), Dodô de Moraes (teclados),
Toti Cavalcanti (sopros) e Zé Gomes (percussão). A cantora Roberta de Recife,
filha de Robertinho; e o guitarrista norte-americano Jesse Robinson fazem
participações especiais no disco.
“É um album para pessoas que estavam aguardando novas
produções musicais minhas, sem maiores pretensões. É a continuidade do meu
trabalho, minha leitura do mundo atual e minha maturidade como homem e
compositor. É a vontade de continuar levando essa vida de shows, estúdio,
gravações e de oferecer o que crio”, explica.
Todas as 12 faixas são de sua autoria. As letras alternam
referências a outros ídolos do compositor - como Pink Floyd e Carlos Drummond
de Andrade -, que é citado em “Lembranças do primeiro” (“No meio do caminho há
uma pedra. Deixe-a, não a remova”); e a canções que marcaram a trajetória do
paraibano - como “A terceira lâmina”, “Beira-Mar” e “A noite preta”, lançada em
seu disco de estreia e que recebe agora o contraponto poético em “A noite
branca”.
“Há uma crueldade em relação à máquina do mundo hoje em dia,
com toda essa correria. Mas não deixo pra trás nada do que eu sou”, afirma.
Inquietações filosóficas que volta e meia vão dar no tema da morte também
permeiam o CD. Sobretudo em “Olhar alquimista”, em que ele canta: “Aonde me
viram não mais verão os alquimistas e os anciões”. “A morte é uma coisa sobre a
qual já comecei a pensar. Ela está também na primeira faixa, quando canto:
‘será que chegarei à terra prometida ou atravessarei o túnel de luz’. Não que
eu me sinta perto de morrer, mas tenho uma curiosa especulação e penso muito
nisso hoje em dia”, avalia.
Ao deixar de lado o caminho dos discos-tributo e voltar a
produzir um CD de inéditas, Zé Ramalho muda para permanecer o mesmo: eloqüente
e claro em seus enigmas.
SERVIÇO
Sinais dos tempos
O que: novo disco de Zé Ramalho. Avôhai Music, 12 faixas.
Produção: Robertinho do Recife
Outras informações: www.zeramalho.com
Saiba mais
Sinais dos tempos tem produção de Robertinho de Recife e do
próprio Zé Ramalho.
O disco tem participações especiais dos guitarristas Jesse
Robinson (EUA) e Rick Ferreira, além de Roberta de Recife, filha de Robertinho
do Recife; e João Ramalho, filho de Zé Ramalho.
A parceria com Robertinho do Recife já dura 15 anos. E a
Banda Z acompanha Zé Ramalhodesde os anos 80.
Drummond é citado na faixa “Lembranças do primeiro”, em que
Zé Ramalho versa: “No meio do caminho há uma pedra./ Deixe-a, não a remova!”
A faixa ”O que ainda vai nascer” traz elementos psicodélicos
e faz referência a “Beira Mar”, sucesso de Zé Ramalho lançado em 1979.
Fonte: Jornal O Povo / Fortaleza-CE, edição 18/07/2012
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