Zé Ramalho ganha prestígio no dia do metal e toca com "Zépultura" no Sunset

   
Tiago Dias

Do UOL, no Rio 22/09/2013

Entre os monstros do heavy metal que integram a programação do último dia do Rock in Rio,  um cantor paraibano, que sempre esteve, injustamente, à margem do rol dos medalhões da MPB, ganhou a aprovação, palmas e gritos dos headbangers a espera de Iron Maiden, que encerra o festival neste domingo (22).
Em show conjunto com o Sepultura, Zé Ramalho foi além: fez a plateia que lotava o Palco Sunset --e que já havia cantado clássicos do Helloween, Destruction e Krisiun-- entoar os versos de "Admirável Gado Novo", saga do agreste brasileiro, cuja aridez ganhou o peso característico do Sepultura, com bateria ritmada, baixo pulsante e riff em alto e bom som.

Sepultura vai 'explorar voz grave' de Zé Ramalho em show no Rock in Rio

 Apresentação inusitada encerra programação do Palco Sunset no festival.'Dança das Borboletas', 'Ratamahatta' e 'Jardim das Acácias' estão no set.

Isabela Marinho
Do G1 Rio


Além de poder ver o repeteco do dueto do Sepultura com o Tambores du Bronx, sucesso na edição de 2011 do Rock in Rio, os fãs da banda de heavy metal terão dose dupla na edição 2013 do festival. Já se sabe que essa parceria deu certo. Mas o que dizer do dueto inusitado de Sepultura e Zé Ramalho? Provavelmente vai funcionar. A banda de metal e o cantor paraibano já se juntaram para gravar “Dança das Borboletas” – composição de Zé Ramalho e Alceu Valença – para o filme “Lisbela e o Prisioneiro” e em vídeo para a TV Globo, esta será a primeira performance ao vivo. Faltando um mês para o show que encerra a programação do Palco Sunset no Rock in Rio, os artistas adiantaram um pouco do repertório em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (22) na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.

O repertório inclui, além de “Dança das Borboletas”, “Jardim das Acácias” e “Admirável Gado Novo” de Zé Ramalho, que ganharão novos arranjos. “A gente está explorando e quer fazer uma coisa nova com a voz grave do Zé Ramalho”, disse o guitarrista Andreas Kisser, acrescentando que a insólita junção se dá pela atitude de ambas as partes. "Tecnicamente cada um tem suas diferenças, mas quando você se expressa honestamente através da arte não existe estilo. A gente se conectou por isso e temos o privilégio de fazer a música do Zé Ramalho de maneira diferente”, concluiu.

O cantor, que aceitou o desafio de usar sua voz potente em "Ratamahatta" do Sepultura, disse estar entusiasmado por participar “de um festival do porte do Rock in Rio aos 60 anos e ao lado de uma banda poderosa como o Sepultura, que já tocou nos quatro cantos do mundo inteiro”. Zé, presente na edição do Rock in Rio em 2001, contou ainda que a participação lhe rendeu prestígio em casa. “Agora meus quatro filhos homens passaram a me respeitar  muito depois que souberam que eu ia tocar com o Sepultura. Agora eles me olham diferente”, acrescentando que embora a tarefa pareça simples e fácil, a apresentação é uma grande responsabilidade e que é preciso oferecer o máximo para a plateia do Rock in Rio.

Zé Ramalho deixou claro que, mesmo que o seu som seja conhecido pela característica regional, foi arrastado para a música por causa do rock. “Eu era jovem e ouvi no rádio uma música dos Beatles e aquilo me deu uma agonia, uma vontade de tocar um instrumento. Depois é que consegui juntar a música trazida da minha região com essa eletrificada. Raul Seixas já falava que Gonzagão e Elvis Presley eram próximos”, disse. A paixão pela guitarra fez com que convidasse Sérgio Dias Baptista e Pepeu Gomes para gravar “Dança das Borboletas” em ocasiões diferentes. Após a coletiva, ele brincou com Derrick Green que no dia do show seus filhos vão “tietar” o vocalista do Sepultura.

Quanto a possíveis críticas do público de heavy metal à junção com o cantor paraibano, Kisser não se preocupa. “Nosso fã está sempre esperando o inesperado da banda. Cada um tem um gosto, uma liberdade de expressão e a gente respeita isso. A gente aprende a conviver com as críticas e cresce através delas”.

Diretor artístico do Palco Sunset, o músico Zé Ricardo falou do desafio de superar o sucesso da apresentação do Sepultura com Tambores du Bronx e que acredita que a junção do heavy metal com Zé Ramalho seja uma boa aposta.  "A gente vem da participação do Sepultura em 2011 no Sunset grandiosa, que arrebatou o Rock in Rio. Fiquei na expectativa do que teria nesta edição para ter esse arrebatamento. Quando falamos no nome do Zé eu fiquei aliviado. De cara identifica essa junção pela atitude dos dois. O público do Sepultura é exigente, que conhece música, que estuda, que sabe quem é o baterista, o guitarrista, a ‘batera’ que ele usou para gravar a música tal”.