Zé Ramalho reprova letra para parceria com Geraldo Azevedo



MARIA DO ROSÁRIO CAETANO
Especial para o Estado


História curiosa cerca uma das mais famosas canções de Geraldo Azevedo - Bicho de Sete Cabeças - escolhida por Laís Bodanzky para batizar (e encerrar, na voz de Zeca Baleiro) o filme que sagrou-se o grande vencedor do Festival de Brasília. Um de seus autores, o compositor paraibano Zé Ramalho, tem verdadeira birra da versão letrada do Bicho.

Quem revela a história da implicância de Ramalho com os versos de Bicho de Sete Cabeças é o próprio Geraldinho. Com humor e calma pernambucana, ele confessa: "compus a melodia desta música com Zé Ramalho, no começo dos anos 70. Trabalhamos sonoridades com um quê de barroco, misturamos choro, música clássica e música moura. E a batizamos de Dezesseis Cordas (pois foi composta com dois violões, um de 10 e o outro de seis cordas). Caprichamos tanto que Zé Ramalho tomou-se de grande amor por ela."
Algum tempo depois, Geraldinho entregou a melodia ao carioca Renato Rocha, para que nela colocasse letra. Os versos - "Não dá pé/ Não tem pé, nem cabeça/ Não tem ninguém que mereça/ Não tem coração que esqueça/ Não tem jeito mesmo/Não tem dó do peito/ Não tem nem talvez/ Ter feito o que você me fez/ Desapareça/ Cresça e desapareça/ Não foi nada/ Eu não fiz nada disso/ E você fez um bicho de sete cabeças" - foram registrados em disco pelo próprio Geraldinho e alcançaram enorme sucesso, a ponto de tornar-se um dos hinos da geração bicho-grilo.
Quando Zé Ramalho ouviu a melodia acompanhada da letra de Renato Rocha - relembra Geraldinho, bem-humorado - "implicou, não gostou de jeito nenhum".
O paraibano comentou com o pernambucano: "é, realmente, não tem pé, não tem cabeça!"
A implicância teve desdobramentos. "Zé Ramalho me pediu" - conta Geraldinho - "para, sempre que a música for apresentada só na versão instrumental, chamá-la Bicho de Sete Cabeças. Quando vier com a letra, vira Bicho de Sete Cabeças II. Atendi a este desejo dele no disco-coletânea Minha História".
Geraldinho Azevedo ficou satisfeito quando os produtores do filme Bicho de Sete Cabeças escolheram a canção para nominá-lo e encerrá-lo. "Ao me procurarem para solicitar a liberacão da música e sua inclusão na trilha, me avisaram que ela seria cantada pelo Zeca Baleiro. Achei o máximo. Ainda não vi o filme, mas não vejo a hora de fazê-lo. Estou curiosíssimo."
O artista pernambucano, que lançou recentemente os discos O Grande Encontro III (com Elba & Zé Ramalho, somados aos convidados Moraes Moreira, Lenine e Belchior) e Hoje Amanhã (produção do selo norte-americano Snow Creek), viu outra composição sua - Berequequê, parceria com Capinan - na trilha sonora do filme Sabor da Paixão (produção americana estrelada por Penélope Cruz & Murilo Benício). Ele prepara, para a mesma Snow Creek, outro disco (Elba Ramalho & Geraldinho Azevedo ao Vivo em Los Angeles). Trata-se de registro de show que os dois fizeram na Califórnia. "O lançamento depende, ainda, de acertos com a gravadora da Elba", pondera. Mas, "tão logo a parte jurídica seja acertada, Ao Vivo em Los Angeles chegará aos brasileiros e americanos".
O autor de Bicho de Sete Cabeças conta com público fiel, devoto mesmo. Um público que conhece suas canções de cor e salteado e exige que ele cante uma dezena delas em todos os shows. "Se eu não cantar Dia Branco, Táxi Lunar, Canção da Despedida (esta, uma parceria com Geraldo Vandré), Moça Bonita, Caravana, Dona da Minha Cabeça, Chorando e Cantando, Talismã, Sabor Colorido (Mel, eu quero mel...), Bicho de Sete Cabeças, eles protestam."
O compositor admite que, "por um lado, isto é bom, pois mostra que conto com a cumplicidade de um público fiel, mas, por outro, dificulta a apresentação de músicas novas". Por sorte - arremata - "a cada novo disco, consigo colocar pelo menos mais uma composição na lista desta turma. Duas delas - Táxi Lunar e Dia Branco - são tão requisitadas, que, às vezes, as canto logo na abertura do show, para acalmar os mais agoniados".


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