Artista Homenageado


 Espaço MPB

José Ramalho Neto, por batismo; Zé Ramalho, artisticamente... Assim é conhecido o nosso artista homenageado do mês.

Filho de uma professora primária e de um seresteiro, não demorou muito para que esse paraibano, de Brejo da Cruz, tomasse gosto pela música. A terra natal, no entanto, ele foi obrigado a deixar com apenas dois anos de idade, após a morte do pai. Quem assumiu as rédeas de sua criação foi o avô, e deste amor sem medidas pela figura do “avô-pai”, surgiu “Avôhai”. O nome lhe foi soprado por entidades extraterrestres ou sensoriais, 20 anos depois.

Pelo desejo da família, ele se tornaria médico. Mas ainda na década de 60, passou a frequentar os conjuntos de baile da Jovem Guarda, o que ajudaria a escrever sua história. E desta época, guarda lições de profissionalismo até hoje, especialmente as influências musicais, que surgiram através das versões de Renato Barros, Leno e Lílian, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Golden Boys.



A vida profissional, de verdade, começou a acontecer em 1974, quando participou da trilha sonora do filme "Nordeste: cordel, repente e canção", da cineasta Tânia Quaresma. Na ocasião, se sentiu envolvido pela linguagem dos cantadores e violeiros do sertão, inventando sua maneira de compor, que até então continha os elementos de rock e dos forrós de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, que tanto ouvia na infância. Naturalmente, ocorreu a transformação e ele, sem perceber, achou a fórmula característica ramalheana. Neste período, usando o nome artístico de Zé Ramalho da Paraíba, foi para o Rio de Janeiro em companhia de outros artistas, e passou a integrar a banda de Alceu Valença, tocando viola no show "Vou danado pra Catende". No intervalo do primeiro para o segundo ato, aparecia cantando sua composição "Jacarepaguá Blues". Só que, durante uma apresentação no Teatro Aquarius, em São Paulo, ele, sob efeito de drogas, como o LSD, se confundiu e trocou a faixa que normalmente apresentava, por "Vila do sossego". A situação provocou um certo transtorno por sair do roteiro do show, e acarretou no rompimento com Alceu Valença, apesar da recepção calorosa dada pelo público à canção. Um ano depois, os dois reataram a amizade e Alceu incluiu a música "Vila do sossego".

Em 1978, lançou o LP "Zé Ramalho", com destaque para as composições "Avôhai", "Vila do sossego", "Chão de giz" e "Bicho de sete cabeças". Com letras cheias de imagens místicas e proféticas, o disco rapidamente tornou-se sucesso de público e de crítica. Logo depois, conheceu a cantora paraibana Amelinha, com quem passou a viver. Ela gravou a composição "Frevo mulher" e obteve grande sucesso no Festival MPB Shell. No ano seguinte, veio a consagração definitiva com o lançamento do álbum "A peleja do diabo com o dono do céu", que trazia o sucesso "Admirável gado novo".

Começava a década de 80, e ele participou do Festival de Música Popular da TV Globo, classificando-se entre os vinte primeiros colocados com a música "Hino à amizade". Em 1981, publicou o livro de poesias "Carne de pescoço", e editou os livretos "Apocalipse" e "A peleja de Zé do Caixão com o cantor Zé Ramalho". Na sequência, lançou o disco "A terceira lâmina", que vinha com letras intrigantes e aumentava sua popularidade. Depois, lançou o disco "Força verde", com o título inspirado no personagem das histórias em quadrinhos "O Incrível Hulk". O registro fonográfico apresentava uma compilação de símbolos e seres mitológicos ligados ao estudo de discos voadores. Por conta da letra de uma das canções, foi acusado de plagiar versos do poeta irlandês William Yeats, o que lhe valeu um processo, que foi arquivado. Ao mesmo tempo, o artista atravessou uma fase turbulentana carreira, devido às drogas e ao fim do casamento com a cantora Amelinha. Em 1983, gravou o disco "Orquídea negra", que tinha a faixa título de Jorge Mautner. Importantes artistas participaram deste trabalho, como Egberto Gismonti, Maria Lúcia Godoy, Fagner, Robertinho do Recife, A Cor do Som e Osmar. Mesmo assim, o trabalho não fez muito sucesso, e, em seus shows, o público continuava a preferir suas primeiras composições.
A partir dali, gravou discos que não venderam tanto como os primeiros, mas que sua beleza musical foi descoberta anos após. Era a experimentação, e ele não teve medo de ousar por novos caminhos, de mostrar sua veia roqueira, as influências estrangeiras e de chocar público e crítica. Só que apenas alguns raros compreenderam. Os discos são: "Pra não dizer que não falei de rock ou por aquelas que foram bem amadas" (1984); De gosto, de água e de amigos" (1985); "Opus visionário" (1986); e "Décimas de um cantador" (1987).

No início dos anos 90, largou definitivamente as drogas e lançou um disco da série Academia Brasileira de Música, intitulado "Brasil Nordeste", que vinha recheado de forrós. Dois anos depois, foi convidado a gravar um tema para a segunda versão da novela "Pedra sobre pedra", da TV Globo, interpretando "Entre a serpente e a estrela", de Aldir Blanc. Com a composição, bateu recorde de vendas, alcançando a marca de um milhão de cópias vendidas. Tanto que acabou incluindo a faixa no disco "Frevoador", cujo título se espelhava na faixa homônima, que é uma versão sua para a música "Hurricane", de Bob Dylan.

1996 foi um ano de ouro!! Lançou o disco "Cidades e lendas" e realizou o primeiro show da série "O grande encontro", dividindo o palco com Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo. O projeto estourou em todo o país e o CD gravado ao vivo vendeu mais de 500.000 cópias. Foi o redescobrimento da música nordestina, com o público do Rio de Janeiro e São Paulo lotando os shows do quarteto, que representa a geração nordeste dos anos 70/80.



Em 1997, a versão original de "Admirável gado novo" estourou na novela "O Rei do Gado", transformando-o em celebridade. O disco da trilha sonora atingiu a inédita marca de 3 milhões de cópias vendidas, recorde até hoje. Paralelamente, a Sony Music lançou uma caixa edição especial em comemoração aos seus 20 anos, com libreto e três CDs: “Raridades, duetos e clássicos”. Também em comemoração aos 20 anos de carreira, saiu o livro "Zé Ramalho — um visionário do século XX", de Luciane Alves. Para completar, gravou "Antologia acústica", disco duplo com vinte faixas, uma releitura de seus antigos sucessos. No mesmo ano, lançou o segundo disco da série "O Grande encontro", desta vez sem a participação de Alceu.

Em 2000, lançou o álbum duplo "Nação nordestina", indicado ao Grammy Latino, e que contava com a participação de Elba Ramalho, Hermeto Pascoal, Fagner e Ivete Sangalo, entre outros. A capa do CD é uma paródia do LP dos Beatles "Sgt. Pepper's", e nela aparecem Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e João do Vale. O primeiro disco apresenta músicas de protesto contra a miséria do país; já o segundo, disco traz composições mais alegres. Este trabalho de Zé Ramalho é considerado um dos principais responsáveis pela fusão entre a música pop, a música nordestina e seus diversos ritmos. No mesmo ano, gravou, com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo o CD "O grande encontro 3", acompanhado de uma série de shows.

Em 2001, veio o projeto "Zé Ramalho canta Raul Seixas", que virou CD e DVD. No tributo ao roqueiro baiano, ele interpretou 10 clássicos do "maluco beleza", além da composição "Para Raul", de sua autoria. No mesmo ano, participou do Rock in Rio 3.

Em 2003, comemorou 25 anos de carreira apresentando o show "Estação Brasil", lançando o CD duplo homônimo, com uma releitura de diversos clássicos da MPB: "Malandragem, dá um tempo" de Bezerra da Silva; "Mesmo que seja eu", de Erasmo Carlos; "Não quero dinheiro", de Tim Maia; "O que é a vida", de Gonzaguinha; "Águas de março", de Tom Jobim, "Bete Balanço", de Cazuza; "Caçador de mim", de Milton Nascimento e Fernando Brant; e "Planeta água", de Guilherme Arantes, alternadas com composições próprias. Ainda em 2003, gravou com o grupo Sepultura, a música "A dança das borboletas", parceria sua com Alceu Valença, que integrou a trilha sonora do filme "Lisbela e o prisioneiro", de Guel Arraes.

Em 2007, chegava às lojas "Parceria dos viajantes", considerado por alguns sua melhor criação dos últimos anos. O álbum reuniu amigos parceiros e instrumentistas, como Oswaldo Montenegro, Zeca Baleiro, Banda Calypso, Pitty, Sandra de Sá. O CD recebeu indicação para o Grammy Latino/2007, na categoria Melhor álbum de música popular brasileira. Ao final deste mesmo ano, lançou o CD "Em foco", apresentando um retrospecto dos grandes sucessos de sua carreira.

Em 2008, lançou o CD "Zé Ramalho canta Bob Dylan", interpretando uma composição dedicada ao ídolo e algumas versões para canções do artista americano. Depois, gravou "Zé Ramalho canta Luiz Gonzaga", marcando 20 anos de ausência do Rei do Baião. Em 2010, seguindo a mesma linha de trabalho dos últimos anos, fez "Zé Ramalho canta Jackson do Pandeiro", regravando clássicos de seu homenageado. No ano seguinte, continuou reverenciando os artistas que ele definiu como seus principais influenciadores, e gravou "Zé Ramalho canta Beatles". Desse álbum, saíram versões novas de grandes sucessos da banda inglesa.

Agora, em 2012, depois de um jejum de cinco anos sem colocar no mercado um trabalho de inéditas, saiu do forno “Sinais dos tempos”, um disco totalmente autoral e que inaugura também seu selo, Avôhai Music. Da novidade, uma faixa em especial chama a atenção - “Sinais” - e a MPB FM largou na frente, apostando e carimbando este mais novo sucesso.

No repertório de toda a sua história, destaque para "Avôhai", "Mistérios da meia noite", “Admirável gado novo”, "Chão de giz" e "Táxi lunar"; sem falar, claro, em “Vila do sossego”, “Entre a serpente e a estrela”, “Frevo mulher” e a nova “Sinais”, entre outras, que Zé Ramalho imortalizou. Tudo isso e muito mais você acompanha aqui, nos 90,3, que vai homenagear durante todo o mês de julho, essa fera da nossa música!! Você ainda pode concorrer ao recém lançado CD do artista e assistir ao show exclusivo, no Palco MPB, que será gravado no dia 16 e vai ao ar no dia 17!! Não perca!!

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