Paraibanos criam acervos que atraem visitantes de todo o Brasil


 Aurílio Santos, organizador do acervocantor e compositor Zé Ramalho, ao lado do artista paraibano (acervoculturalzeramalho.blogspot.com.br)




 Jornal Mossoroense,  17 de Fevereiro de 2013 


Quando se critica a falta de apoio para projetos e ações voltados para a cultura, geralmente se pensa numa realidade local, sem o devido conhecimento do que se passa em outras regiões do Nordeste e mesmo do Brasil.
Mas, numa visão mais ampla, o que se verifica a grosso modo é que, na maioria das cidades brasileiras a cultura pode ser considerada uma atividade vista em segundo plano pelos órgãos governamentais e poderes públicos constituídos.
Um exemplo disto se pode constatar nas cidades de Brejo do Cruz e São Bento, no vizinho estado da Paraíba, a pouco menos de 150 quilômetros de Mossoró.
Quem visita Brejo do Cruz, terra do cantor e compositor Zé Ramalho, se depara com um fotógrafo de prestígio internacional, premiado em vários concursos no Brasil e no exterior, zelando sozinho o acervo do músico conterrâneo.
Aurílio Santos reuniu discografia, fotos, uma guitarra doada pelo próprio artista, algumas vestimentas, e às suas custas montou o Acervo Cultural Zé Ramalho que recebe fãs de todo o Brasil.
Solícito, Aurílio fixou na porta do acervo o seu número de telefone celular e mesmo quando está ausente do espaço, o visitante pode ligar que em poucos minutos ele abre as portas para a visitação.
Sobre os apoios, o organizador frisa: "Já pensei até em fechar tudo isto, pois as dificuldades são tantas, mas não tenho coragem."
Em São Bento, 16 quilômetros após Brejo do Cruz, Gildimar de Freitas Ramalho iniciou há dois anos uma busca por peças antigas da região e hoje já acumula mais de dois mil objetos em sua residência, atualmente pequena para a quantidade de material catalogado.

Destacam-se no acervo esculturas sacras, onde quatro delas podem ter sido esculpidas por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, famoso escultor mineiro, e uma versão da Bíblia Sagrada, de 1881, que é a primeira versão da obra traduzida do latim para a língua portuguesa.
Ainda compõem o acervo baús, máquinas fotográficas, aparelhos de som, fiadores de algodão, dentre outros objetos relevantes para a região.
Sobre a autenticidade das peças atribuídas a Aleijadinho, Gildimar explica que elas podem ter sido trazidas para a região pelas mãos de um comprador de ouro no final do século XVIII.

Segundo o colecionador, a prefeitura local havia mostrado interesse em manter as obras em um espaço público, mas para isto ele teria que doar o material para o município, o que, para ele, não seria interessante, visto que as administrações mudam e não se pode assegurar que outros administradores zelem pelo acervo assim como ele ou os atuais gestores.
Técnicos do Ministério da Cultura já fizeram algumas visitas ao local e demonstraram algum interesse em ter o material exposto à comunidade, mas nenhuma iniciativa foi tomada até agora.

Caio César Muniz
Especial para o Universo

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