"Sinais": representação musical da maturidade de Zé Ramalho

 
  "O que não te mata, não te destrói, te fortalece", e assim, citando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o paraibano Zé Ramalho leva sua vida. Guerreiro do sertão e alquimista das palavras, o músico nascido em Brejo do Cruz chega aos 62 anos calejado, conhecedor da vida. "Sinais", novo disco de inéditas, lançado pelo selo próprio, Avôhai Music, é a representação musical de sua maturidade.

Cheio de psicodelia, blues e os encantos da musicalidade nordestina, o álbum traz Zé Ramalho em forma, após uma incursão por obras alheias. Enquanto resolvia um imbróglio com a gravadora EMI, que o proibiu de gravar seus sucessos, se envolveu nos projetos "Zé Ramalho Canta Bob Dylan" (2008), "Luiz Gonzaga" (2009), "Jackson do Pandeiro" (2010) e "Beatles" (2011), "Sinais" sucede "Parceria dos Viajantes", lançado há cinco anos.

Neste período parado, Zé Ramalho nunca parou de compor. Mas a maturidade trouxe também a dádiva da paciência. Ele curte cada verso, cada harmonia. "Não tenho mais ansiedade em finalizar uma canção. Deixo-a aguardando a inspiração maior", pontua. "Tudo foi pensado com calma." No contexto, as 12 músicas têm uma variedade enorme de gêneros (rock, folk, forró). Na calma nasceu "Sinais".

A percepção da ação do tempo, implacável, é escancarada logo na primeira estrofe de "Indo Com o Tempo", faixa de abertura: "O tempo vai passando / E, com ele, eu vou / O tempo vai passando / E, com ele, eu vou / Não deixo para trás / Nada do que eu sou", canta Zé Ramalho, enquanto o guitarrista de blues Jesse Robinson destila melancolia na chorosa guitarra. A música, diz o autor, "abre o portal das considerações poético-musicais a respeito desse tema." Como um guia, Zé Ramalho nos introduz ao tempo com magnitude.

Seu vozeirão sombrio abre caminho para as palavras cantadas (ou ditas), proféticas, psicodélicas e caóticas. "Indo Com o Tempo", "Sinais", "Lembranças do Primeiro" e "Olhar Alquimista" fecham o primeiro terço do disco de forma grandiosa. A sequência ganha raios de luz, com teclados alegres, como em "Justiça Cega". É a união do sax tenor com a sanfona, o cangaço e a cidade, luz e escuridão, futuro, presente e passado. Tudo num só Zé Ramalho.

Fonte: Jornal da Manhã, Marília-SP

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