Aconteceu em Chapadas dos Guimarães


Por Enock Cavalcanti

Um disco de inéditas, com as letras psicodélicas de Zé Ramalho, sempre algo proféticas, é certamente um acontecimento, principalmente quando se anuncia que o poeta resolveu escrever e cantar sobre vida e morte, em ritmo de frevo agalopado. Guitarras bluesísticas se unem à zabumba e sanfona e cogumelos de esterco se misturam à memória do LSD num álbum que inventaria a trajetória de um herói popular. Zé Ramalho está numa vibe meio nostálgica – escreveu Jotabê Medeiros.

Na canção “Indo contra o tempo”, com sua voz de anjo exterminador, Zé Ramalho anuncia:”Me lembro, claramente/De tudo que eu vivi/Até a fase negra/ Dela não esqueci” E arremata, em tom apocaliptico: “Será que chegarei/Na terra prometida?/…/Mas sei que pagarei/ A minha dívida/E não perdoarei/ A quem me trouxe dor/ A quem me trouxe dor”.

A canção mais emblemática do álbum, já anunciaram, é Noite branca. O álbum de estreia do paraibano é fechado com Noite preta (com Alceu Valença e Lula Côrtes). Noite branca tem levada de Frevo mulher, e abre com a introdução de Venus, do Shocking blues, que Zé Ramalho tocou muito nos seus tempos de bailinhos. Um belo arroubo de nostalgia, sem pieguice. A conferir, pois não?

Acho que vai ser instigante ouvir ecoar entre os paredões da Chapada, aquela canção em que Zé Ramalho propõe: “Tirem a venda dos olhos da justiça/Pra que ela possa enxergar/ Mais claramente/O que se passa bem ali/Na sua frente/Bem no silêncio/Da cobiça, dos palácios”.

Noite de ouvir Zé Ramalho. Noite de catarse. A partir da meia-noite, eu acho. Estaremos todos lá, os sonhadores que vivemos tentando escapar desta vida de gado. O profeta Ramalho, certamente, nos inspira nesta caminhada

Fonte: Pagina do Enock Cavalcanti

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