Galeria do Acervo




Zé Ramalho em Grafite por Sandra Lima

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


"A arte é a sublime expressão dos sentimentos, os quais usamos para dignificar a alma. Minhas mãos, a extensão dos meus olhos para transmitir ao papel estes mesmos sentimentos"

Todos os direitos reservados.


Galeria do Acervo


                           Zé Ramalho na visão de Guima


Julio Pereira Guimarães Jr. Nasceu no Rio de Janeiro em 16 de março de 1980. Formado em Belas-Artes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, participa de salões de humor e exposições no Brasil e no exterior desde 2005. Conquistou premiações em salões nacionais e foi selecionado em alguns salões internacionais. Atualmente, atua como professor de artes em escolas particulares e estaduais no Rio de Janeiro e responde pela coordenação do Projeto Sorrialengo, onde capacita novos cartunistas e desenvolve projetos sócio educativos. Apesar de desenvolver trabalhos com qualquer técnica (lama, resíduos,café e etc...), Guima tem se destacado pela técnica de desenvolvimento dos seus trabalhos elaborados com riquezas de detalhes em grafite com maestria e agregando a caricatura à linguagem do Grafitti, onde, na mesma obra, ele também desenvolve um objeto de composição elaborado em tinta acrílica, causando um efeito visual bem peculiar.

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Desenho em grafite de Willian Medeiros


Nasci William Jeovah de Medeiros em 1967. Vivi em Campina Grande (PB) até os 30 anos e desde 1997 resido em João Pessoa, onde atuo como designer gráfico e ilustrador. Em 1997 assumi o cargo de diretor de arte do departamento de marketing da Rede Paraíba de Comunicação, onde trabalho até hoje.

Daí por diante o destino estava traçado. Eu levava jeito pra coisa, me interessei e passei a me inspirar em mestres como Cárcamo, Loredano, Quino, Sempé, Trimano, David Levine…

Uma visão singular dos tempos por Zé Ramalho


Cantor e compositor paraibano lança Sinais dos Tempos, seu primeiro álbum de inéditas desde 2007


Rafael Rodrigues Costa
Gazeta do Povo  / Caderno G / Publicado em 22/07/2012

Cinco anos depois de seu último disco de inéditas, Zé Ramalho retoma sua faceta autoral em tom retrospectivo. Recém-lançado, Sinais dos Tempos traz dez canções que evocam o marcante universo psicodélico, místico e profético do artista paraibano – desta vez, autorreferente. “É a soma de tudo que eu já fiz”, diz Ramalho, em entrevista por e-mail para a Gazeta do Povo.


Há referências diretas, como a faixa “A Noite Branca”, que remete a “A Noite Preta”, do LP Zé Ramalho (1978) – disco de estreia que projetou o músico com “Chão de Giz” e “Avôhai” (hoje também nome do selo que criou para gerenciar sua obra livre das gravadoras) – e marcas diluídas de sua identidade musical.

“Todos os caminhos percorridos em músicas, pensamentos e inspirações estão nesse novo trabalho. Não é uma repetição, mas sim um desenvolvimento, uma extensão de tudo”, explica o músico.   Ritmo natural
A reflexão, conforme explica o compositor, veio na dinâmica paciente de seu processo de criação. Ramalho conta que vai guardando e desenvolvendo as canções diariamente, “sem pressa, nem agonia”.

“O que chega de longe, a inspiração, que vem de longe, não interessa à lógica, ou à elaboração racional, que eventualmente pudesse vir a acontecer. Deixo que a onda flua naturalmente. A sequência das ideias, quando começo a escrever, tem um pouco de mediunidade.”

A mensagem veio conectada às mudanças dos tempos, conforme sugere o nome do disco e faixas como “Sinais” – uma interpretação do zeitgeist dos anos 2010 na visão de Ramalho, que liga clones e alienígenas.

“O mundo de hoje, com a rapidez das comunicações, fibras óticas, satélites, internet ligando todos os países, discos voadores, fanáticos religiosos, líderes políticos corruptos... um prato cheio para um autor como eu, que exponho todos esses paradigmas neste disco”, diz.

Já a voz confessional que aparece em canções como “Indo com o Tempo” revela um lado perseverante da maturidade, que fala da morte com serenidade: “Não deixo para trás/ Nada do que eu sou”. E também implacável: “Mas sei que pagarei/ A minha dívida/ E não perdoarei/ A quem me trouxe dor”.

A postura convicta de Ramalho sustenta todo o conceito. “Não faço discos para ter reconhecimento ou tampouco ouvir elogios ou críticas. Faço para continuar meu trabalho, minha pregação filosófica, poética e musical nordestina”, explica Ramalho.

“O público que me consome hoje é uma disparidade de idades. Jovens, senhores e senhoras, que me acompanham há algum tempo e a agradável surpresa de ver crianças descobrindo meu trabalho”, conta, tendo a seu favor a boa recepção que conseguiu no festival SWU, em novembro de 2011.

Seu lugar na música, que conhece bem, o coloca em destaque. “Ele é único porque nunca tive nenhum concorrente, tamanha é a estranheza universal do meu trabalho. Ninguém faz o que eu faço.”

Opinião


O melhor de Ramalho ofuscado por ideias pouco inspiradas

Reforçado pelo conceito de rememoração de suas ideias artísticas e mesmo referências diretas aos trabalhos mais célebres da carreira de Zé Ramalho, Sinais dos Tempos soa familiar ao mesmo tempo em que reafirma a singularidade deste (autodenominado) estranho artista. As letras enigmáticas cantadas e faladas em tom grave e profético, arranjos simples e referências literais de gêneros seminais para Ramalho, como o forró e o rock, além dos climas sonoros e imagéticos, tratam de imprimir sua marca no novo trabalho. “Sinais”, “Lembranças do Primeiro” e “A Noite Branca” compensam momentos em que erra-se a mão: introduções e frases rudimentares em timbres clichês, previsibilidade de algumas melodias e letras, e métricas encaixadas um tanto à força em algumas canções pouco inspiradas resultam em um disco que, embora também remeta ao melhor de Zé Ramalho, expõe alguma obsolescência. GG1/2


Zé Ramalho de volta ao Chevrolet Hall



Da redação local


Zé RamalhoUm ano após sua apresentação em Belo Horizonte com a casa cheia, Zé Ramalho & Banda Z retornam para um show especial no próximo dia 29 de setembro (sábado), na arena do Chevrolet Hall (Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230 Savassi). O cantor paraibano promete clássicos de uma respeitável carreira de mais de 30 anos.

Conhecido pelo estilo que mistura cidade grande e sertão, psicodelismo e regionalismo, com uma pitada nordestina, Zé Ramalho é comparado pela crítica a grandes nomes da música mundial, como Bob Dylan, que foi interpretado por ele no disco “Zé Ramalho Canta Bob Dylan”, indicado ao Grammy Latino 2009, na categoria Melhor Disco de Rock.

Em BH, o músico estará acompanhado da talentosa Banda Z, que tem Chico Guedes (contrabaixo), Edu Constant (bateria), Dodô de Moraes (teclados), Toti Cavalcanti (sopros) e Zé Gomes (percussão). O repertório vai privilegiar canções como, “Avohai”, “Frevo Mulher”, “Admirável Gado Novo”, “Garoto de Aluguel”, “Chão de Giz”, “A Dança das Borboletas”, “Beira Mar”, “Eternas Ondas”, “Garoto de Aluguel”, “Vila do Sossego” e “Banquete de Signos”.

34 anos de sucesso

Zé Ramalho da Paraíba, como chegou ao Rio em muitas idas e vindas, acompanhou Alceu Valença e chamou atenção. O primeiro álbum foi lançado de 1978, dando início a uma carreira de sucesso. Logo veio “A Peleja do Diabo Com O Dono do Céu”, rendendo ao artista seu primeiro disco de ouro. Seu terceiro disco, “A Terceira Lâmina” (81) foi disco de ouro em menos de dois meses. Em seguida, veio o álbum “Força Verde”, que, segundo o próprio artista, foi o disco mais místico que já fez. Dois anos depois, Zé Ramalho retornou com Orquídea Negra (83) e, posteriormente, estreou “Pra Não Dizer Que Não Falei de Rock” (84), “De Gosto, de Água e de Amigos” (85), “Opus Visionário” (86) e “Décimas de Um Cantador” (87), fase de grandes sucessos, como “Mistérios da Meia Noite” (85) até reencontrar-se no início dos anos 90.

O sucesso de “Cidadão”, a bordo do CD “Frevoador” (92), encerrou sua fase CBS/Sony – quando ingressou na BMG com “Cidades e Lendas” (96) em eminência do projeto “O Grande Encontro”, que reuniu os amigos Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. Na BMG, cujo catálogo foi reunido ao da Sony, o artista retomou sua carreira de sucesso com o aclamado CD duplo “Antologia Acústica” (97), seguido de “Eu Sou Todos Nós” (98), “Nação Nordestina” (2000), “Zé Ramalho canta Raul Seixas” (2001), “O Gosto da Criação” (2002), “Estação Brasil” (2003) e, finalmente, o ambicioso projeto “Ao Vivo de 2005”.

Essa Caixa de Pandora, que reúne em seus dois primeiros CDs os sucessos de Zé Ramalho, brinda os fãs e colecionadores, com preciosidades arquivadas na gravadora na última década. Como mais um volume para a série “Zé Ramalho canta...”, o CD 3 “Zé Ramalho Canta MPB”, interpretando músicas de compositores que prestigiou em seus discos, com destaque para “Amigo” (de Roberto & Erasmo, em dueto com Fagner) e “Gita” (de Raul Seixas & Paulo Coelho). O quarto CD abre com cinco gravações de Raul Seixas que haviam ficado na pré-produção do CD de 2001. O volume 4 fecha as quatro bolachas de áudio com “In My Life”, música dos Beatles que simboliza o amor de Zé por tudo que fez e pelos amigos com quem trabalhou até hoje. E, finalmente, após anos de ausência no mercado, o DVD do projeto Ao Vivo de 2005, em que o artista revisita seus grandes clássicos.



Visitas


                                                                     Foto Aurilio Santos

O Acervo Cultural Zé Ramalho tem recebido visitas importantes de diversos cantos do País, para ver a obra e a vida do grande artista paraibano que é Zé Ramalho.

No entanto, sem a devida valorização do poder púbico, o fotógrafo Aurílio Santos tem feito tudo para manter a exposição, e que pode ser uma grande contribuição para preservar este patrimônio nacional.

As pessoas que vem e contemplam essa síntese do Nordeste, através das centenas de obras pertencente ao poeta do apocalipse, ficam decantados com dezenas de objetos expostos.

Para somar a grandeza do acervo tivemos a visita de servidores da SECRETARIA DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO - SPU


O tempo de Zé Ramalho




PEDRO ANTUNES

Jornal da Tarde / Variedades / 25 de julho de 2012


“O que não te mata, não te destrói, te fortalece”, e assim, citando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o paraibano Zé Ramalho leva sua vida. Guerreiro do sertão e alquimista das palavras, o músico nascido em Brejo do Cruz chega aos 62 anos calejado, conhecedor da vida. Sinais, novo disco de inéditas, lançado pelo selo próprio, Avôhai Music, é a representação musical de sua maturidade.

Cheio de psicodelia, blues e os encantos da musicalidade nordestina, o álbum traz Zé Ramalho em forma, após uma incursão por obras alheias. Enquanto resolvia um imbróglio com a gravadora EMI, que o proibiu de gravar seus sucessos, se envolveu nos projetos Zé Ramalho Canta Bob Dylan (2008), Luiz Gonzaga (2009), Jackson do Pandeiro (2010) e Beatles (2011). Sinais sucede Parceria dos Viajantes, lançado há cinco anos.

“Cada disco é uma sensação diferente”, explica ele ao JT por e-mail – Zé evita entrevistas. “A sensação de apresentar músicas inéditas é de grande expectativa, devido à grande responsabilidade que um artista como eu tem, depois de 35 anos de carreira, ao apresentar tudo o que aprendeu neste mais novo capítulo.”

Neste período parado, Zé Ramalho nunca parou de compor. Mas a maturidade trouxe também a dádiva da paciência. Ele curte cada verso, cada harmonia. “Não tenho mais ansiedade em finalizar uma canção. Deixo-a aguardando a inspiração maior”, pontua.

“Tudo foi pensado com calma.” No contexto, as 12 músicas têm uma variedade enorme de gêneros (rock, folk, forró). Na calma nasceu Sinais. A percepção da ação do tempo, implacável, é escancarada logo na primeira estrofe de Indo Com o Tempo, faixa de abertura: “O tempo vai passando / E, com ele, eu vou / O tempo vai passando / E, com ele, eu vou / Não deixo para trás / Nada do que eu sou”, canta Zé Ramalho, enquanto o guitarrista de blues Jesse Robinson destila melancolia na chorosa guitarra. A música, diz o autor, “abre o portal das considerações poético-musicais a respeito desse tema.”

Apesar dos cinco anos entre Parceria dos Viajantes e Sinais, as canções foram compostas nos últimos dois. No processo de criação de Ramalho não há sobras, tudo é previamente planejado. Ele chamou Robertinho do Recife, parceiro há 15 anos, para os arranjos e juntos assinam a produção.

Como um guia, Zé Ramalho nos introduz ao tempo com magnitude. Seu vozeirão sombrio abre caminho para as palavras cantadas (ou ditas), proféticas, psicodélicas e caóticas. Indo Com o Tempo, Sinais, Lembranças do Primeiro e Olhar Alquimista fecham o primeiro terço do disco de forma grandiosa.

A sequência ganha raios de luz, com teclados alegres, como em Justiça Cega. É a união do sax tenor com a sanfona, o cangaço e a cidade, luz e escuridão, futuro, presente e passado. Tudo num só Zé Ramalho.


Show de Inauguração do Acervo




O povo chegando para a noite de Som e Poesia

As pessoas olhando as obras do mestre

Apresentação dos poetas Manoel da Silva e Manoel Messias

Apresenteção do Couver Zéca Ramalho (Parelhas-RN)
Visitação de inauguração do Acervo

Visitação do Acervo em sua inauguração


O povo ficou encantado com show do Couver Zeca Ramalho e banda, que aconteceu ontem dia 28 de setembro, o evento foi realizado por Aurílio Santos para inaugurar o Acervo Cultural Zé Ramalho.

O evento começou às 20h com EXIBIÇÃO de documentário e a apresentação dos poetas Manoel da Silva e Manoel Messias, por determinação da Justiça Eleitoral o show encerrou-se a 1:00h

Foi uma noite de Cultura para todos.
Fotos por Aurilio Santos


ZÉ RAMALHO NO PROGRAMA "SEGUE O SOM" TV BRASIL


 O convite para Zé Ramalho participar deste Segue o Som veio em boa hora. O cantor acaba de lançar “Sinais dos Tempos”, trabalho que reflete o mundo como ele o vê.
Profecias, poesias, mediunidade, ensinamentos, papo de medicina, conversas agradáveis e música. Esta edição é um passeio pelo mundo de Zé Ramalho, que se faz acompanhar por Robertinho do Recife, Gonzaguinha-Gonzagão, Wanderléa, Golden Boys, Amelinha, Fagner, Zeca Baleiro, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo.
O Segue o Som fala ainda de como o nordeste brasileiro revelou grandes talentos musicais, todos fortemente marcados por suas raízes. Zé Ramalho é um deles. Mas corriam os anos 1960, e o mundo era uma overdose de rock-and-roll, contestações, drogas, viagens transcendentais, experiências psicodélicas, inspirações tibetanas. Um universo fascinante, alucinado e inspirador, que atraía não só o nosso convidado, como também Raul Seixas, The United States of America, The Moody Blues e Bob Dylan. Tudo isso você confere nos clipes sensacionais que o Segue o Som vai mostrar.

Do Zé Ramalho, o programa selecionou, entre outras, as canções Indo com o Tempo, Admirável Gado Novo, Avôhai e Negro Amor. E uma pérola: Jackson do Pandeiro cantando “Chiclete com Banana”.

Não perca! Clipes, entrevistas, lançamentos, dicas e muita música no programa apresentado pela dupla Maurício Pacheco e Mariano Marovatto

Horário(s) do episódio

22/09/2012 às 02:30

Fonte: TV Brasil

Visitando o Acervo

Foto Aurílio Santos


O Acervo Cultural Zé Ramalho tem recebido visitas importantes de diversos cantos do País, para ver a obra e a vida do grande artista paraibano que é Zé Ramalho.

No entanto, sem a devida valorização do poder púbico, o fotógrafo Aurílio Santos tem feito tudo para manter a exposição, e que pode ser uma grande contribuição para preservar este patrimônio nacional.

As pessoas que vem e contemplam essa síntese do Nordeste, através das centenas de obras pertencente ao poeta do apocalipse, ficam decantados com dezenas de objetos expostos.

Para somar a grandeza do acervo tivemos a visita de servidores do IDEMA-RN.






Jornalista carioca escreve biografia oficial do paraibano Zé Ramalho



Jornal da Paraíba


Vida/Geral Paraíba, terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Colaboradora da Rolling Stone, Christina Fuscaldo está em João Pessoa coletando dados para o livro

ANDRÉ CANANÉA

Depois de filme, Zé Ramalho, enfim, terá sua biografia escrita. Quem corre atrás de contar a história de um dos mais famosos músicos da Paraíba é a jornalista carioca Christina Fuscaldo, 30, que mostrou a Zé que, além de fã, é uma profunda conhecedora da obra do paraibano. “Venho cantando o Zé Ramalho para fazer a biografia dele há uns seis, sete anos, e no ano passado, ele sinalizou positivamente com a idéia. Me passou uns contatos e eu vim a João Pessoa começar a pesquisa para o livro”, conta Christina, que está na cidade desde quinta-feira. Fuscaldo conheceu Zé Ramalho quando era estagiária do Globo On Line. Escalada pelo jornalista Jamari França para entrevistar o músico com ele, a jovem Christina impressionou Zé com seu conhecimento sobre a obra do autor de “Avôhai”. “Quando viro fã de um artista, mergulho na história dele, na vida dele. Procuro saber tudo. Foi assim quando me apaixonei por Machado de Assis, e por Zé Ramalho”, comenta. De entrevista em entrevista, Christina, que já trabalhou no jornal Extra (RJ) e para a revista da MTV, é colaboradora da Rolling Stone Brasil desde seu primeiro número e mantém o blog Garota FM, sobre música, propunha a Zé uma biografia. “Ele sempre dizia: sua resposta um dia irá chegar”, lembra a carioca Christina Fuscaldo conta que esta será a primeira biografia a oficial do músico. “Zé já deu várias entrevistas para pessoas que se propuseram a escrever sua biografia a. Mas essas entrevistas acabaram se tornando outros tipos de livros, como o que faz uma relação entre a obra de Zé e ufologia”, pondera. Aos poucos, Zé foi levando a jornalista para seu universo. “Na época do disco Parceiros Viajantes (2007), ele me chamou para fazer um roteiro de entrevistas. Depois, me chamou para participar do projeto ‘Tá Tudo Mudando’ (2008). Sou eu quem está nos extras, participando de uma mesa-redonda com o Braulio Tavares e até na capa do CD/DVD, lá atrás, junto com o Báia (parceiro de Zé em várias faixas do disco)”, revela Christina. Zé Ramalho impôs como condição para que Christina Fuscaldo se tornasse a biógrafa oficial dele que ela amarrasse uma editora, primeiro. “E eu até consegui. Mas aí veio a crise e eles disseram que todos os projetos estavam suspensos até que a poeira baixasse”, informa. “O que me impressionou foi a ignorância das editoras em relação a Zé Ramalho. Eu cheguei a ouvir que ele só venderia dois livros, o que é um absurdo! No Rio, o Zé não é tão popular quanto Roberto Carlos, mas é uma fi gura cult que lota shows”, acrescenta. Mesmo com a autorização por escrito do músico – o que virou uma condição para que as editoras apostem em biografias de artistas vivos, sobretudo depois que a Planeta teve problemas com a biografia de Roberto Carlos -, mas sem editora, Christina decidiu dar início à biografia de Zé Ramalho por conta própria. “O Zé compreendeu e apoiou a iniciativa, junto com a mulher dele, a Roberta. Até me deu o contato da família dele aqui em João Pessoa e do Hugo Leão (velho parceiro de Zé)”, conta. Dessa maneira, ela diz que correu atrás de passagens e de apoio para ficar em João Pessoa (socorro que veio atrás do Hardman Praia Hotel). “Conversei com algumas pessoas durante o fim de semana, ouvi histórias que preciso apurar e uma lista de nomes que preciso entrevistar. Vou tentar fazer isto até esta terça-feira”, comenta, para arrematar: “Com a pesquisa que venho fazendo e estas entrevistas em João Pessoa, vou escrever um ou dois capítulos e enviar para as editoras. A idéia é escrever uma biografia romanceada sobre a carreira, mas também sobre a vida de Zé, um cara que tem uma história de vida fantástica”.







ENTREVISTA ROLLING STONES


 Quinta-feira, 27 de maio de 2010

Por Cristiano Bastos

Camuflado numa alameda do bairro do Flamengo, o ex-cadete do exército José Ramalho Neto encravou em solo fluminense um QG de raízes paraibanas: a produtora Jerimum. As simbologias agrestes são marcas constantes e profundas na obra de Zé Ramalho.


Sob a umidade tropical do Rio de Janeiro, a aridez do sertão ainda é metáfora-chave para ingressar nos numerosos códigos – místicos, psicodélicos, ufológicos e de velhos ícones do rock'n'roll – cifrados em suas composições.

Ele conta que "desceu ao mundo" em março de 1949, em Brejo do Cruz, nos confins da Paraíba. Depois da morte do pai, poeta, afogado num açude do sertão, foi criado pelo avô para ser médico.O avô-pai, após uma viagem lisérgica do neto envolvendo cogumelos, extraterrestres e mensagens telepáticas, virou a canção-hino "Avôhai".

Numa conversa animada que levou a tarde inteira de uma segunda-feira, Zé Ramalho falou sobre o disco novo, Canta Bob Dylan – Tá Tudo Mudando e a facilidade que encontrou para liberar canções do velho Zimmermann – o exato oposto ocorreu com as canções assinadas pela dupla Raul Seixas e Paulo Coelho no projeto Zé Ramalho Canta Raul Seixas.

O paraibano abriu suas vivências químicas, sem pudores e em dois capítulos: primeiro, com os cogumelos alucinógenos; depois, com a cocaína. E explicou sua negação para se manifestar sobre o álbum que fez com o Lula Côrtes, Paêbirú: "Por que tantos anos depois? Deviam ter falado sobre isso há 30 anos!"

Onde sua história começa?

A Saga de um Visionário da Música Brasileira


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ao enfocar a trajetória individual desse ícone de nossa música, o documentário "Zé Ramalho, o Herdeiro de Avôhai" celebra ao mesmo tempo a universalidade e a força da arte brasileira plasmada na riqueza de gêneros e expressões de valor incalculável, a despeito das adversidades e dos contrastes sócio-econômicos regionais.

Das origens de menino pobre, nascido na cidade de Brejo do Cruz, no sertão paraibano, ao sucesso nacional, a saga e a obra de Zé Ramalho remetem a desafios pessoais e coletivos, como também interligam as influências regionais com a cultura além fronteiras. Entre desafios e superações Zé Ramalho transpassou limites, até se tornar um patrimônio nacional.

Hoje, dentre milhares de admiradores de todas as idades, gerações após gerações têm comprovado que esse visionário da música brasileira criou uma obra de caráter universal.

O filme é pontuado por referências às fases que constituem a formação e origem da pessoa e do artista. Num primeiro momento, as lembranças de sua infância e adolescência entre Brejo do Cruz (onde nasceu) e Campina Grande, seguido pelas aventuras da juventude na cidade de João Pessoa, onde se construiu sua base intelectual e musical, influenciada pelos movimentos culturais da época, como a Jovem Guarda, os conjuntos de baile, o rock internacional e a literatura surrealista. Por fim, contempla-se a projeção nacional, após a luta para ingressar no mercado fonográfico do eixo Rio-São Paulo, entremeado pelos dramas pessoais, o ostracismo da mídia, a dependência quimica, até o ressurgimento após a superação dos problemas, paralelo ao redescobrimento da mídia e da renovação do público para a sua obra.

Depoimentos de familiares, de vizinhos de infância e amigos do artista, gravados nas cidades de Brejo do Cruz, João Pessoa e Rio de Janeiro, servem como fonte para subsidiar o documentário com informações e imagens sobre momentos e fases marcantes de sua vida.

O documentário mostra ainda um registro do show histórico realizado na Praia de Tambaú (João Pessoa), em janeiro de 2007. Destaque também para imagens das cidades que marcaram a trajetória de Zé Ramalho, pontuando as entrevistas e os clips com canções que se tornaram clássicas da música brasileira como "Vila do Sossego", 'Avôhai", "Jardim das Acácias", "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu", "Admirável Gado Novo", "Falas do Povo", "Bicho de Sete Cabeças", "Chão de Giz", "Dança das Borboletas", "Galope Rasante", "Beira Mar", entre outros.

Do ponto de vista da linguagem, vale salientar a busca de uma perspectiva metalinguistica, revelada em alguns momentos através da interação da equipe técnica com os personagens como também através da utilização de trechos de filmes relacionados com a vida e a obra de Zé Ramalho.

A entrevista principal com Zé Ramalho, que serve de guia para o documentário, foi realizada no centenário teatro Santa Roza (João Pessoa), local onde ele realizou seu primeiro show profissional, o "Atlântida", em 1974 e performances emblemáticas do inicio de sua carreira musical.

Outros depoimentos do artista foram gravados na Praia de Camboinha (Cabedelo), no calçadão da Praia do Leblon (Rio de Janeiro) e em seu apartamento no Rio de Janeiro, onde ele reside com a mulher (Roberta Ramalho) e os filhos cariocas (José e Linda).

O filme traz ainda revelações inusitadas de personagens ligados ao tempo em que Zé Ramalho atuou em bandas musicais, ou conjuntos de baile (como eram conhecidos), em João Pessoa. Figuram aqui amigos de adolescência e juventude como: Roberto Lira, um dos fundadores do Grupo "Os Demônios" (onde Zé iniciou sua carreira musical); Floriano Miranda (lider do lendário "Os 4 Loucos", que era o grupo mais famoso da época em João Pessoa); Hugo Leão, que era o lider do Gupo "The Gentlemen" (o mais importante no inicio da formação profissional do artista); Eduardo Stuckert e Onaldo Mendes, produtores de alguns dos primeiros shows do inicio da carreira solo de Zé Ramalho em João Pessoa. Esse período representa o inicio da formação

musical e a importante vertente que bebia e consumia fazendo covers de sucessos da Jovem Guarda e de grupos ingleses como Beatles e Rolling Stones. Isto é, a cultura pop que se instalava no mundo e na Paraíba também.

Conta ainda com a participação de Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho, parceiros de uma geração de artistas nordestinos que chegou ao Sul do país na década de 70 para ganhar a projeção no mercado fonográfico nacional; além de Carlos Alberto Sion, produtor do primeiro disco de Zé Ramalho (Zé Ramalho, 1978), que tornou o artista conhecido nacionalmente como Avôhai, Chão de Chiz e Vila do Sossego, clássicoso da música brasileira contemporânea.

Elinaldo Rodrigues









"Zé Ramalho - O Herdeiro de Avôhai" de Elinaldo Rodrigues é premiado



Terça, 29 de Dezembro de 2009

Por Márcia Dementshuk, do Jornal O Norte

O documentário "Zé Ramalho - O Herdeiro de Avôhai", com direção de Elinaldo Rodrigues, ganhou Prêmio da Academia Paraibana de Cinema na Categoria Documentário Longa-Metragem. O troféu foi entregue nesta segunda-feira, dia 28, em solenidade no Espaço Cultural da Paraíba, em João Pessoa.

"O documentário é uma homenagem à Paraíba e ao Nordeste, através deste ícone da cultura do estado que é Zé Ramalho", anunciou o diretor Elinaldo Rodrigues. Segundo ele, a idéia da produção do documentário surgiu a partir de um encontro com Eduardo Stuckert, produtor de Zé Ramalho no início de sua carreira. Um esboço do projeto foi enviado a Zé Ramalho cuja aprovação foi imediata. Depois disso, a captação de recursos levou um ano e as gravações iniciaram em 2006, registrando as primeiras entrevistas com o cantor, exclusivas para o projeto, no Theatro Santa Roza.

O documentário traz depoimentos de pessoas que participaram da trajetória do cantor, como Elba Ramalho, Carlos Alberto Sion, quem produziu o primeiro Long Play, Zé Ramalho. Os músicos Hugo Leão e Floriano Miranda contam a passagem de Zé pelas bandas de rock de João Pessoa, na e a infância no sertão.



Primeiro disco



Zé Ramalho


Este é o meu primeiro disco. O disco de estréia. Veio cheio de misticismo e idéias. Trouxe um linguajar diferente do usual. Através da mensagem do "Avôhai", música que abre o disco, com a participação de Patrick Moraz, tecladista do grupo inglês YES! Além de "Avôhai", traz "Vila do Sossego" e "Chão de Giz", músicas que viraram clássicos da M.P.B. com várias regravações de outros artistas. É o disco da chegada, transpondo a soleira do alcance musical. É um disco que nunca saiu de cartaz. Me orgulho dele e do seu tempo. Foi o início de tudo. Tudo começa com "Avôhai".

Texto da reedição, 2003

Marcelo Fróes

Nascido em Brejo do Cruz (PB) a 03/10/49, José Ramalho Neto passou a infância com o avô em Campina Grande e descobriu o rock’n’roll e o iê-lê-iê vivendo a adolescência em João Pessoa, ouvindo tanto a Jovem Guarda quanto os discos dos Beatles e de seus contemporâneos. Na virada dos anos 70, Zé Ramalho foi membro do grupo The Gentlemen, que gravou um álbum pela Rozenblit, mesma gravadora pernambucana por onde o lendário álbum duplo "Paêbirú" foi gravado, em parceria com Lula Côrtes no final de 1974, com participações de Alceu Valença, Zé da Flauta e outros.

Zé Ramalho da Paraíba, como chegou ao Rio em muitas idas e vindas, acompanhou Alceu Valença e chamou atenção. Resolveu estabelecer-se definitivamente na cidade após o carnaval de 1976, disposto a nunca mais voltar para o Nordeste. Aquela altura, já havia composto Avôhai, Vila do Sossego, Chão de Giz e A Dança das Borboletas, e depois de conhecer o produtor Carlos Alberto Sion no pier de Ipanema, entrou no estúdio da Phonogram para gravar uma demo. Não foi aceito, mas passou o ano visitando a RCA, a EMI-Odeon e a Som Livre, que também não se interessaram. O diretor de TV Augusto César Vanucci tornou-se fã e mostrou Avôhai à então esposa Vanusa, que decidiu gravar a música em São Paulo, com Zê ao violão.

Já perto daquele ano de 1976, Raimundo Fagner deu seu aval junto à diretoria da CBS - chamando atenção para o trabalho do amigo, o que fez com que o diretor artístico Jairo Pires se encantasse ao ouvir Avôhai. Imediatamente contratado no início de 1977, Zé Ramalho respirou aliviado e passou o ano fazendo shows no Rio. Uma versão de Avôhai chegou a ser registrada num estúdio de rádio, para que entrasse imediatamente na programação. Este primeiro disco solo de Zé Ramalho foi gravado em 8 canais no estúdio da CBS em novembro de 1977.

Todos os músicos tocaram de graça, animados com a oportunidade alcançada pelo cantor e compositor paraibano, inclusive o tecladista inglês Patrick Moraz, que estava gravando um álbum solo no Rio de Janeiro.

As bases foram gravadas com poucos músicos, tendo Zé até mesmo, usado apenas percussão e não bateria neste trabalho semi-acústico de incrível qualidade sonora. Também na parte eletrificada, o ex-Mutantes Sérgio Dias sensibilizou tanto por sua participação que ganhou três dos oito canais para seu apoteótico solo de guitarra em A Dança das Borboletas. Ninguém percebeu na ocasião que a fita estava chegando ao fim, e é por isso esta faixa encerra o primeiro lado do disco daquela forma.

Como o artista continuava morando num quarto alugado na Glória, a CBS decidiu hospedá-lo no Hotel Plaza de Copacabana para que fizesse o trabalho de divulgação com mais conforto. O disco teve ótima repercussão e o artista aproveitava para distribuir seu livrinho de cordel Apocalypse na entrada de seus shows. Zé Ramalho sentiu que a "coisa estava começando a acontecer" em meados de 1978, quando recebeu o primeiro dinheiro proveniente da execução pública de suas músicas.

Blog Vini Velho

Entrevista




Zé Ramalho falou conosco


Em nossa edição nº 03, de junho de 1994 tivemos o prazer de entrevistar um dos maiores

músicos da história da MPB, o cantor, compositor e instrumentista paraibano Zé Ramalho.

Ele nos recebeu gentil e humildemente na sala de estar do Grande Hotel Itaúna

onde gravamos a presente entrevista.

Nela o músico nos fala sobre seu trabalho e de suas crenças e filosofias.


Por Pepe CHAVES  & Adilson RODRIGUES

Zé Ramalho e o fanzine.

Via Fanzine: Essa sua turnê tem passado por onde? Ela representa o lançamento de um novo disco?

Zé Ramalho: Neste Período de São João, mês de junho, eu estou no Nordeste. Amanhã mesmo estarei lá em Caruaru me apresentando. Quanto ao disco novo, ele já está pronto, eu estou só aguardando o melhor momento para lançá-lo.

Clássicos da MPB: Zé Ramalho - A Peleja Do Diabo Com O Dono Do Céu


Por Luiz Felipe Carneiro

Em 1974, Zé Ramalho já havia participado da banda The Gentlemen, bem como gravado o antológico "Paêbirú", ao lado de Lula Côrtes. Dois anos depois, quando chegou ao Rio de Janeiro, Zé Ramalho da Paraíba (como era conhecido), já era um compositor de mão-cheia, com sucessos na cartola, como "Vida do Sossego" e "Chão de Giz". No mesmo ano, conheceu o produtor Carlos Alberto Sion e gravou uma demo. Entretanto, as gravadoras não se interessaram no som não muito convencional de Ramalho.

Mas quando diretor de televisão Augusto César Vanucci mostrou a canção "Avôhai" para a sua esposa, a cantora Vanusa, as coisas começaram a mudar de figura. Com a gravação de Vanusa, e uma forcinha de seu amigo Fagner, Zé Ramalho foi contratado pela gravadora CBS (atual Sony/BMG). Daí, foi só Zé Ramalho entrar em estúdio e gravar o seu primeiro álbum solo, que levava o seu nome no título. "Zé Ramalho", que foi lançado em 1978, trazia sucessos "místicos", como "Avôhai" (agora, finalmente, gravado pelo seu compositor), "A Dança das Borboletas" e "Chão de Giz".

No ano seguinte, Zé Ramalho entrou em estúdio para gravar "A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu". No entanto, as canções viajantes do primeiro disco deram lugar a algo mais politizado. Em razão disso, esse novo álbum, que contava com uma foto na capa do compositor ao lado do cineasta Zé do Caixão e da atriz Xuxa Lopes, em uma imagem de cordel, trazia canções que chegaram até a incomodar um pouquinho o governo militar, como "Admirável Gado Novo" e a própria faixa-título.

Extremamente bem produzido (mais uma vez, Carlos Alberto Sion foi o responsável), o álbum rendeu a Zé Ramalho o seu primeiro disco de ouro. Naquela época, o paraibano já estava compondo canções para os discos de colegas como Elba Ramalho, Fagner e Geraldo Azevedo.

A abertura de "A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu", exatamente com a sua faixa-título, já resumia bem a proposta do trabalho. Sob uma sonoridade que era capaz de misturar todos os elementos típicos da música nordestina (xote, xaxado, baião e o que mais aparecesse), Zé Ramalho destilava fortes críticas sociais: "Com tanto dinheiro girando no mundo / Quem tem pede muito, quem não tem pede mais / Cobiçam a terra e toda a riqueza / Do reino dos homens e dos animais / Cobiçam até a planície dos sonhos / Lugares eternos para descansar". "Admirável Gado Novo", que mistura zabumba, ganzá e triângulo a um sofisticado arranjo de cordas de Paulo Machado, literariamente, vai pelo mesmo caminho ("O povo foge da ignorância / Apesar de viver tão perto dela / E sonham com melhores tempos idos / Contemplam essa vida numa cela / Esperam nova possibilidade / De verem esse mundo se acabar").

A grave "Falas do Povo", uma espécie de "marcha fúnebre nordestina", é outra que expõe bem as mazelas do povo daquela região. A autobiográfica e pungente "Garoto de Aluguel (Taxi Boy)", por sua vez, fala de um trabalho que Zé Ramalho teve que fazer logo que chegou, sem dinheiro, ao Rio de Janeiro: "Minha profissão é suja e vulgar / Quero um pagamento para me deitar / Junto com você estrangular meu riso / Dê-me seu amor que dele não preciso". Musicalmente, essa canção é a que mais destoa do álbum todo. Nela, Ramalho acompanhou-se apenas por uma orquestra de cordas. E a pesada letra acabou caindo muito bem no camerístico acompanhamento.

Mas o misticismo de Zé Ramalho também estava presente nesse "A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu". E o melhor exemplo disso é a faixa "Beira-Mar", que a despeito de sua imensa e intricada letra, fez grande sucesso quando do lançamento do álbum. O xote "Mote das Amplidões" é outra canção do álbum que vai pelo mesmo caminho, assim como "Jardim das Acácias" (uma das grandes composições de Zé Ramalho), cheia de guitarras distorcidas de Pepeu Gomes e um grandioso arranjo de cordas de Paulo Machado. A letra é mais uma pérola do cantor paraibano: "A papoula da Terra do Fogo / Sanguessuga sedenta de calor / Desemboco o canto nesse jogo / Como a cobra se contorce de dor / Renegando a honra da família / Venerando todo ser criador".

Finalizando o álbum, além do "choro nordestino" instrumental "Agônico", o maior sucesso da carreira de Zé Ramalho. A versão de "Frevo Mulher" constante no disco, no entanto, é um pouco diferente da festa sonora que ouvimos atualmente em seus shows. Uma verdadeira orquestra de metais (10 músicos no total), fizeram de "Frevo Mulher", uma espécie de um "frevo-marchinha-fúnebre-de-carnaval".

Pois é... Tempos de ditadura! Artistas inteligentes assim conseguiam dar o seu recado de alguma forma...

Retirado do site http://www.sidneyrezende.com/

Visitando Acervo


Capitão Marcílio Almeida Marques no meio dos colegas                               foto: Aurílio Santos

O Acervo Cultural Zé Ramalho tem recebido visitas importantes de diversos cantos do País, para ver a obra e a vida do grande artista paraibano que é Zé Ramalho.

No entanto, sem a devida valorização do poder púbico, o fotógrafo Aurílio Santos tem feito tudo para manter a exposição, e que pode ser uma grande contribuição para preservar este patrimônio nacional.

As pessoas que vem e contemplam essa síntese do Nordeste, através das centenas de obras pertencente ao poeta do apocalipse, ficam decantados com dezenas de objetos expostos.

Para somar a grandeza do acervo tivemos a visita do Capitão-Tenente da Marinha da Paraíba Marcílio Almeida Marques juntamente com seus oficiais na região do Brejo do Cruz, no oficio de fiscalizar a Região.



Zé Ramalho cumpre a promessa



O "Jornal do Disco", editado por Okky de Souza e circulando como suplemento da revista "Somtrês", perguntou a cada uma das grava­doras brasileiras qual será o seu trunfo, em 1980, na guerra das pa­radas. A Bandeirantes respondeu: Grupo Paranga. A WEA, Oswaldo Montenegro. A RGE, Gilliard. A Top Tape, Gilson, A EML Djavan. A Som Livre, Olívia. A Continental, Paulo André Barata. A RCA. Dia­na Pequeno. A Polygram, Angela Ro Ro. E a CBS, o paraibano Zé Ramalho. Sobre o autor de Admirá­vel Gado Novo, A UNIÃO publica o texto do "Jornal do Disco".

"Entre as promessas para 1980, Zé Ramalho é uma que já se cumpriu. Vai longe o ano de 1977, quando Zé Ramalho da Paraíba era um tímido tocador de viola que acompanhava Alceu Valença numa temporada do show Vou Danado Pra Catende, em São Paulo, quando Zé abandonou um espetáculo na metade para voltar à sua Paraíba. A barra angustiante e competitiva foi demais para quem só queria mostrar o que sabia de música, depois de ouvir muito os artistas po­pulares do sertão nordestino.

"Hoje, dois LPS já lançados com sucesso (Zé Ramalho, em março de 78, e A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, em setembro de 79), Zé Ra­malho pode ser considerado "um ve­terano da novíssima geração". Sua gravadora, a CBS, começou, com ele, a dar um decisivo impulso para o apa­recimento de discos de estreantes nor­destinos. Produzindo, compondo ou arranjando, Zé Ramalho tem partici­pado de vários desses discos.

"Apoiado nos sucessos de Avôhai, Vila do Sossego (do l9 LP), Admirável Gado Novo e Frevo Mu­lher, além da faixa-titulo (do 2»), ele encerrou ao ano com o show de lança­mento do disco em São Paulo e no Rio, em duas semanas de verdadeiro delírio popular. O público que lotou o teatro, em todas as apresentações, já sabia cantar com ele quase todas as músicas e vibrou muito com os arran­jos tão densos quanto as letras que ele compõe, os bons músicos que o acom­panharam e até com a presença em uma das noites de um convidado es­pecial: Zé do Caixão, homenageado na capa do segundo disco, foi fazer ca­retas e mostrar as unhas como retri­buição a um dos mais ativos composi­tores do ano passado. Que mostrou fô­lego de sobra para entrar em 80 no mesmo ritmo".

Jornal A União
Quarta Feira 5 de Março de 1980







O TEMPO E ZÉ RAMALHO




PEDRO ANTUNES


“O que não te mata, não te destrói, te fortalece”, e assim, citando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o paraibano Zé Ramalho leva sua vida. Guerreiro do sertão e alquimista das palavras, o músico nascido em Brejo do Cruz chega aos 62 anos calejado, conhecedor da vida. Sinais, novo disco de inéditas, lançado pelo selo próprio, Avôhai Music, é a representação musical de sua maturidade.

Cheio de psicodelia, blues e os encantos da musicalidade nordestina, o álbum traz Zé Ramalho em forma, após uma incursão por obras alheias. Enquanto resolvia um imbróglio com a gravadora EMI, que o proibiu de gravar seus sucessos, se envolveu nos projetos Zé Ramalho Canta Bob Dylan (2008), Luiz Gonzaga (2009), Jackson do Pandeiro (2010) e Beatles (2011). Sinais sucede Parceria dos Viajantes, lançado há cinco anos.

“Cada disco é uma sensação diferente”, explica ele ao JT por e-mail – Zé evita entrevistas. “A sensação de apresentar músicas inéditas é de grande expectativa, devido à grande responsabilidade que um artista como eu tem, depois de 35 anos de carreira, ao apresentar tudo o que aprendeu neste mais novo capítulo.”

Neste período parado, Zé Ramalho nunca parou de compor. Mas a maturidade trouxe também a dádiva da paciência. Ele curte cada verso, cada harmonia. “Não tenho mais ansiedade em finalizar uma canção. Deixo-a aguardando a inspiração maior”, pontua. “Tudo foi pensado com calma.” No contexto, as 12 músicas têm uma variedade enorme de gêneros (rock, folk, forró).

Na calma nasceu Sinais. A percepção da ação do tempo, implacável, é escancarada logo na primeira estrofe de Indo Com o Tempo, faixa de abertura: “O tempo vai passando / E, com ele, eu vou / O tempo vai passando / E, com ele, eu vou / Não deixo para trás / Nada do que eu sou”, canta Zé Ramalho, enquanto o guitarrista de blues Jesse Robinson destila melancolia na chorosa guitarra. A música, diz o autor, “abre o portal das considerações poético-musicais a respeito desse tema.”

Apesar dos cinco anos entre Parceria dos Viajantes e Sinais, as canções foram compostas nos últimos dois. No processo de criação de Ramalho não há sobras, tudo é previamente planejado. Ele chamou Robertinho do Recife, parceiro há 15 anos, para os arranjos e juntos assinam a produção.

Como um guia, Zé Ramalho nos introduz ao tempo com magnitude. Seu vozeirão sombrio abre caminho para as palavras cantadas (ou ditas), proféticas, psicodélicas e caóticas. Indo Com o Tempo, Sinais, Lembranças do Primeiro e Olhar Alquimista fecham o primeiro terço do disco de forma grandiosa. A sequência ganha raios de luz, com teclados alegres, como em Justiça Cega. É a união do sax tenor com a sanfona, o cangaço e a cidade, luz e escuridão, futuro, presente e passado. Tudo num só Zé Ramalho.



Quem canta para política acontece!

POLÍTICA DE 2009


Saia justa: Zé Ramalho tratou Ricardo Coutinho como futuro governador; prefeito de Sapé destaca Cícero e Efraim


– Imagem: Arquivo - 27 de junho de 2009

O cantor e compositor, Zé Ramalho criou um fato político na noite de ontem, sexta (26), durante o final de um show na cidade de Sapé quando anunciou a presença do prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, como futuro governador do Estado. A postura do artista paraibano irritou o prefeito João da Utilar que de modo continuo, determinou ao locutor Rubem Júnior que enfatizasse as presenças de seus correligionários, Cícero Lucena e Efraim Morais.

Desde o inicio de sua carreira artística, Zé Ramalho sempre foi arredio a se manifestar preferência de voto. Depois de fazê-lo em favor de Antonio Mariz, em 94, é a primeira vez que o artista, manifesta apoio a um líder político.

A declaração de Zé Ramalho gerou constrangimento no camarote principal do prefeito João da Utilar porque ele era anfitrião de dois correligionários importantes, Efraim e Cícero Lucena.

Logo em seguida a apresentação de Zé Ramalho, o locutor oficial passou o tempo citando as presenças dos pré-candidatos do DEM e PSDB, que estão em campanha política á caça de alianças no Estado.

 Da Redação com wscom

PELEJA DE ZÉ RAMALHO COM ZÉ LIMEIRA


                                                                de Arievaldo Vianna

Glorioso Santo Afonso

Da Siqueira do Tetéu

Chica Bela, Neco Filho

Meu “padin” Cabra Miguel

Ajudai a minha lira

Pra rimar mais um Cordel…



Eu falo de uma peleja

Cantoria de primeira

Que houve no ano passado

Lá na Serra do Teixeira

Entre o cantor Zé Ramalho

E a alma de Zé Limeira.

Zé Ramalho com João do Vale



João do Vale, Telma e Zé Ramalho

João do Vale, Telma e Zé Ramalho

João do Vale não tocava nenhum instrumento. Dizia que também não sabia cantar e nem tinha voz de cantor. “Sou um cantador”, repetia com Zé Ramalho. Os músicos que estavam com ele concordavam. Disseram que tinham que ir atrás porque cada vez ele cantava num tom diferente. Mas João tinha uma facilidade impressionante para fazer versos.
Eu sou a flor que o vento jogou no chão

Mas ficou um galho

Pra outra flor brotar

A minha flor o vento pode levar

Celebrando o velho Lua

Gravadoras antecipam centenário de Gonzagão, lançando coletâneas e tributos que reverenciam o cancioneiro do pernambucano. 

Arquivo-divulgação
 
Caetano, Gil, Maria Bethânia, Elba e Zé Ramalho estão entre os cantores que interpretam classicos do 'Rei do Baião'

Os 100 anos de nascimento de Luiz Gonzaga (1912-1989) batem à porta e as gravadoras correm para lançar tributos ao Rei do Baião que, como se vê através dos inúmeros projetos de shows, discos e tributos, é nome inigualável da música popular brasileira.
De largada, três CDs chegam às lojas, reverentes ao legado musical do grande Lua: Gilberto Gil Canta Luiz Gonzaga (Warner, R$ 29,90), Olha Pro Céu (Universal, R$ 39,90), e 100 Anos de Gonzagão (Lua Music, R$ 74,90).
Gilberto Gil Canta Luiz Gonzaga é uma coletânea que reúne as releituras de Gil para a obra de uma de suas maiores influências, Luiz Gonzaga. Com o carimbo do Discobertas e aval do próprio Gil, a seleção foi feita pelo garimpador Marcelo Fróes pinça 14 regravações, a maioria retirada da trilha-sonora de Eu Tu Eles (2000) e de Viva São João (2001), projetos quase que inteiramente dedicados à obra do pernambucano.
Mas estão lá o primeiro “cover” de Gonzagão, ‘Imbalança’, cujo fonograma foi extraído do CD Cidade do Salvador (1973), a roupagem moderníssima de ‘Vem morena’ (do CD Raça Humana, 1984), ‘Macapá’, lado B do compacto Não Chore Mais (1979) e a pungente ‘Respeita Januário’ do disco ao vivo em Montreux (1978). Ah, o encarte é generoso, com as letras das músicas e uma bela foto do setentão Gil ao lado do centenário Lua.
COLETÂNEA DUPLA
Gil também está no duplo Olha Pro Céu, coletânea bastante eclética de 28 faixas – 14 em cada CD – com nomes que vão da nossa Elba Ramalho a Caetano Veloso. São canções já conhecidas, extraídas dos empoeirados acervos das extintas Philips, Polygram, Ariola, Elenco, etc. e reunidos em um belíssimo estojo duplo digipack, com ótimo texto do jornalista Tárik de Souza.

Gilberto Gil comparece com três faixas do recente Fé na Festa ao Vivo (lançado em 2010 pela própria Universal) – ‘Olha pro céu’, Juazeiro’ e ‘Dança da moda’ - mais a citada ‘Imbalança’ de Cidade do Salvador.
O conterrâneo Caetano Veloso fornece a releitura tropicalista do clássico absoluto ‘Asa branca’, do seu disco homônimo de 1971, mais a performance de ‘A volta da asa branca/Eu só quero um xodó’ extraída de Phono 73 (1973), ‘Baião de dois’ (2002) e a inédita versão voz e violão de ‘Respeita Januário’, de uma demo caseira que Caetano fez de aniversário para o filho Zeca, que em 1999 completava dez anos de vida.
A coletânea não ignora o discípulo maior de Gonzaga, o cearense Dominguinhos, que está lá com o pot-pourri 'Siri jogando bola/Respeita Januário/Forró do mané', que gravou em Forró de Dominguinhos (1975).
O Quinteto Violado aparece mais: 'Algodão', 'Numa sala de reboco', 'São João do carneirinho/São João na roça/Polca fogueteira', o manifesto 'Vozes da seca' e a única faixa do CD que traz a participação de Gonzagão: 'Asa branca', registrada no LP Antologia do Baião (1977).
O disco ainda traz as gravações da 'Rainha do Baião' Carmélia Alves e da 'Princesinha do Baião' Claudette Soares. Tem também Bethânia, Elba (com 'Dúvida', de 1991, e 'Roendo unha', de 1983), Gal Costa, Amelinha, Fafá de Belém, Marília Medalha, Alceu Valença e Gerson King Combo.
VERSÕES INÉDITAS
Por fim, mas não menos importante, chega às lojas o melhor tributoà Luiz Gonzaga até agora. A caixa 100 Anos de Gonzagão, da Lua Music, reúne nada menos que 50 regravações inéditas do Rei do Baião, a partir de um time extraordinário: Fafá de Belém, Geraldo Azevedo, Amelinha, Zezé Motta, Ednardo, Gaby Amarantos, Ângela Rôrô, Rolando Boldrin, Elke Maravilha, Wanderléa, Zeca Baleiro, Vânia Bastos, Edy Star, Dominguinhos e os internacionais Forró in the Dark e Nation Beat.

A Paraíba está bem representada no CD. Estão lá Zé Ramalho (‘A Morte do vaqueiro’), Elba (‘No meu pé de serra’), Chico César (‘Pau de arara’) e Cátia de França (‘Vozes da seca’) em gravações modelo 2012.
“Inicialmente, a gravadora queria uma seleção de 20 músicas”, lembra o produtor do projeto, Thiago Marques Luiz, em entrevista ao JP, por telefone. “Mas é difícil escolher apenas 20. Então eu trabalhei bastante para chegar a 50, 50 versões inéditas que deram origem a três CDs (nomeados como ‘Sertão’, ‘Xamego’ e ‘Baião’)”.
O projeto ganhou forma no final do ano passado e entre janeiro e maio deste ano, Thiago acompanhou o time de artistas dos mais diversos estilos e gerações da música brasileira ao estúdio. Ou pelo menos parte deles. “A maioria desses artistas foi gravado em São Paulo. Dai gravamos uns 12, ou 15, no Rio.Outros, como Chico César, gravou ai em João Pessoa, o Forró in the Dark gravou em Nova York”, conta.
O repertório foi escolhido pelo próprio Thiago, salvo uma ou duas sugestões dos interpretes. A seleção contempla os grandes hits na voz de Gonzagão, mas também canções pouco conhecidas.
“Eu achei importante colocar algumas músicas menos conhecidas, para o projeto ter um certo diferencial”, justifica.
“Um amigo me disse: -Esse CD parece o Cassino do Charinha! Tem até a Elke Maravilha!”, lembra, divertido. “E o Cassino do Chacrinha mostrava isso, que há música boa em todos os gêneros”, pondera. Elke gravou, ao lado do Trio Dona Zefa, a dobradinha ‘O Xote das Meninas / Capim Novo’.
Tiago deu total liberdade aos artistas para interpretarem o cancioneiro de Luiz Gonzaga. “Cada um tem sua identidade e sua forma de cantar Gonzagão”, pontua. E esse é o grande trunfo da caixa. Da voz gutural de Zé Ramalho embalando “tengo, lengo, tengo, lengo...”, até a versão roqueira de ‘Baião’ protagonizada por Wanderléa, ou a recriação completamente Radiohead do Vanguart para ‘Assum preto’, há espaço para que cada artista faça sua homenagem ao aniversariante do ano, comprovando o quanto é plural, e atual, o legado de Gonzaga.

Entrevista


Camuflado numa alameda do bairro do Flamengo, o ex-cadete do exército José Ramalho Neto encravou em solo fluminense um QG de raízes paraibanas: a produtora Jerimum. As simbologias agrestes são marcas constantes e profundas na obra de Zé Ramalho. Sob a umidade tropical do Rio de Janeiro, a aridez do sertão ainda é metáfora chave para ingressar nos numerosos códigos - místicos, psicodélicos, ufológicos e de velhos ícones do rock'n'roll - cifrados em suas composições.

Ele conta que "desceu ao mundo" em março de1949, em Brejo do Cruz, nos confins da Paraíba. Depois da morte do pai, poeta, afogado num açude do sertão, foi criado pelo avô para ser médico.O avô-pai, após uma viagem lisérgica do neto envolvendo cogumelos, extraterrestres e mensagens telepáticas, virou a canção-hino "Avôhai".
Numa conversa animada que levou a tarde inteira de uma segunda-feira, Zé Ramalho falou sobre o disco novo,Canta Bob Dylan - Tá Tudo Mudando e a facilidade que encontrou para liberar canções do velho Zimmermann - o exato oposto ocorreu comas canções assinadas pela dupla Raul Seixas e Paulo Coelho no projeto Zé Ramalho Canta Raul Seixas. O paraibano abriu suas vivências químicas, sem pudores e em dois capítulos: primeiro, com os cogumelos alucinógenos; depois, com a cocaína. E explicou sua negação para se manifestar sobre o álbum que fez como Lula Côrtes, Paêbirú: "Por que tantos anos depois? Deviam ter falado sobre isso há 30 anos!"

Onde sua história começa?

Apesar de eu ter nascido em Brejo do Cruz, e não "da" Cruz, como muita gente confunde, por causa da música do Chico Buarque, depois de dois meses meu avô conduziu a família pra Campina Grande, onde ficamos até 1960. É lá que, pela primeira vez, eu escuto rádio, com 5 anos de idade. As rádios AM eram a única novidade, as novelas do rádio e os programas de auditório ao vivo. Na Rádio Borborema vi show de Marinês e sua Gente, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Lembro que tivemos que ir pra João Pessoa, porque meu avô sofria de pressão alta e Campina Grande fica em cima da Serra da Borborema. Aos 13 anos, quando o intelecto foi se abrindo, a música ganhou mais força. A Jovem Guarda começou a aparecer para mim. Especialmente, Roberto Carlos e Renato & Seus Blue Caps. Eu estudava no colégio Pio X, dos Irmãos Maristas, em João Pessoa. E, nesse colégio, de educação extremamente fina, nos jograis que a gente tinha quefazer uma vez por mês, um dos trabalhos era organiza rum grupo musical em cada classe. Depois fazer uma espécie de concurso entre os alunos. Eu já sabia dar três acordes no violão. Juntaram outros dois colegas. Fizemos uma apresentação que fez muito sucesso.Aquilo criou uma chispa. Acendeu em mim a chamados grupos de baile, pode-se dizer. Dali, logo depois passei a procurar os músicos que tocavam nos bailes pela cidade de João Pessoa. Eram muitos.

Como era esse grupo de baile?

Fundamos uma banda chamada Elis & os Demônios, com mais três colegas da escola. Começamos a ser contratados para tocar em bailes, para as pessoas dançarem. Bailes de quatro horas. Eu tocava guitarra e, aos poucos, fui me incumbindo dos solos. Eu copiava. Isso me trouxe uma riqueza muito grande. Porque você toca de tudo. A formação mais famosa que integrei tinha um vocal fenomenal: Os Quatro Loucos, que, antes, se chamava Four Crazy's, numa tradução errada - o certo seria Crazy Four. A gente tocava músicas em inglês, então eu levava as letras pro professor traduzir, pra entendermos o que estávamos cantando. Foram experiências importantes pra me dar noção sobre comportamento de palco, remuneração e profissionalismo. Comecei apensar nessas coisas.

Você era muito jovem?

Muito. Eu tinha 16, 17 anos. Agora, encostei-me aos 60. Estou em "cinco ponto nove", companheiro. São 42 anos de carreira. Mas as coisas ainda estão muito frescas na minha cabeça. Os grupos de baile tocavam, basicamente, Jovem Guarda, e quase nada de forró, quase nada de samba. A gente tocava guitarra pra conquistaras meninas e ter uma chance de colar nelas. Até que, com 18 anos, chegou a hora de servir o quartel. Pior que eu tinha fama de cabeludo por causa dos grupos.

Escrito por Cristiano Bastos, REVISTA Rolling Stone